A dificuldade dos dates depois do isolamento

A pandemia escancarou algo que já acontecia: o desencontro de ideias e a disparidade das relações mulher-homem em nossos tempos. Se antes a gente relevava, ficou mais difícil. E agora?

04.05.2022  |  Por: Clara Averbuck

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A dificuldade dos dates depois do isolamento
Tem um tempo, eu sei, que voltaram os encontros presenciais. Só saberemos as consequências sei lá quando, mas já estão começando a aparecer em forma de date ruim, ou mesmo antes do date, no papo por aplicativo que murcha a alma.

Será que voltaremos ao encontro moleque, o encontro de raiz, o encontro com o cruzar de olhares em um bar ou festa, o flerte legítimo, ou está todo mundo estranho e esquisito por tempo indefinido? Há mulheres que perderam a paciência real e não conseguem nem engajar em uma conversa de aplicativo. “Zero dates, tolerância zero com homice“, disse uma seguidora.

Tirar da tela e trazer pra vida real um crush de internet também parece estar sendo frustrante; muitas expectativas geradas por tempo demais acabam nisso. Imagina ficar meses e meses alimentando algo, montando cenas e na hora não é nada daquilo? E não é só com os delírios românticos que temos que tomar cuidado: os delírios de foda podem ser igualmente frustrantes.

“Durante a pandemia eu descobri ainda mais o prazer de não estar com um homem, o prazer da solidão. E é muito bom não ter que conversar com homem. Eu também descobri os vibradores e desenvolvi um laço afetivo com eles”, contou-me uma amiga enquanto mastigava um torresmo. “Aí eu fico com muita preguiça de sair e interagir com pessoas, fiquei a pandemia inteira com meus amigos e agora não tenho saco. É isso, não tenho mais saco”, finalizou ela, dando um gole na cerveja tranquilmente.

Não tive um relato bom. “Chatos chatos chatos”, disse uma. “Dates? Não suporto mais homem, eles não acompanham nossa evolução. Tudo parado no tempo”, disse outra. Mais duas: “Homens que só querem sexo e transam mal” e “O último foi bem meia bomba e o antes desse disse que o Trump não era tão ruim assim e foi sem final feliz”. “Prestes a receber uma multa pelo surto do último. Cagou fora do vaso, polícia, porta arrombada”, disse nossa campeã.

Você, leitora, espero que tenha tido mais sorte. Mas, como disse ainda outra amiga, “tá todo mundo meio doido e meio perdido nos quereres. Eu inclusa”.

Concluo, aqui, que melhor date algum a um date ruim. E como faz pra transar, pra beijar, pra sentir calor humano? Teremos que reaprender a nos relacionar. Essa pandemia só escancarou algo que já acontecia, que é o desencontro de ideias e a disparidade das relações mulher-homem em nossos tempos. Antes a gente relevava, né? Agora são poucas.

Agilizem aí, rapazes.

Clara Averbuck é escritora e tem nove livros publicados. Sua obra já foi adaptada para o cinema e o teatro, tendo sido publicada em Portugal, Inglaterra e toda a América Latina

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