‘A gente não aceita ter câncer, a gente só escuta e decide se quer viver’

Depoimentos de três mulheres resumem o dia a dia de quem tem câncer de mama e inspiram não só a prevenção como a coragem quando o exame dá positivo

23.10.2019  |  Por: Jo Melo

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‘A gente não aceita ter câncer, a gente só escuta e decide se quer viver’

Segundo o Instituto Nacional de Câncer, mais de 59.700 novos casos de câncer de mama devem ser contabilizados no Brasil em 2019. Serão acometidas diversas mulheres, especialmente as com mais de 40 anos. Mas ainda é muito difícil fazer um recorte mais fino de quem será diagnosticada com a doença. A sensação é de roleta russa mesmo. Por isso diagnosticar rapidamente é a melhor maneira de sobreviver a ela. E, apesar da afirmação da ginecologista Maria Weber parecer meio médica e fria demais, ela traz a temperatura de uma realidade que, antes de tudo, é preciso querer:O câncer de mama tem uma das melhores sobrevidas entre os diversos tipos de câncer, especialmente se descoberto precocemente.”

Por isso trazemos os depoimentos de Vanessa, Xicâ e Lucia, que mostram como ter coragem e determinação é importante para lidar com as questões da doença sem deixar a peteca cair. E, se cair, elas nos mostram onde e como podemos nos apoiar.

Vanessa P. Silva, militar, 34 anos
“Descobri o câncer em 1 de agosto de 2016 através do autoexame de mama. Depois, tive a confirmação através de mamografia e ressonância magnética. O primeiro pensamento foi: vou morrer! Mas depois me entreguei a Deus e a todas as orações que eu recebia, e segui bem confiante.
Fiz a mastectomia em 2016. O médico conseguiu reconstruir meu seio com prótese de silicone e também com parte da musculatura grande dorsal (músculo das costas). Posteriormente, em 2017, fiz a simetrização das mamas e em 2018 a reconstrução do mamilo e aréola com pele da virilha.
Ainda tomo remédios que bloqueiam hormônios, o que faz parte do tratamento. Eles têm vários efeitos colaterais chatos, mas a verdade é que fica tudo mais simples depois de passar pelo câncer.
Agora vivo o presente, vivo o hoje! Naquele mesmo ano criei um grupo no Facebook como promessa de ajudar pessoas a terem informações a respeito da importância da prevenção do câncer de mama. Isso me deu muita força. Até hoje recebo muitas mensagens de maridos, filhos e gente procurando ajuda para pessoas queridas.”

Xicâ G. Lima, professora de artes, 49 anos
“Fui diagnosticada uma semana antes do Natal de 2018. A gente não aceita ter câncer, a gente só escuta e decide se quer viver. Eu escolhi e segui minha vida normalmente.
Fui ao médico, fiz a cirurgia e 12 sessões de quimioterapia. Não tive reações como nos filmes, mas meu cabelo caiu e quer saber? Fiquei linda careca. Fiz mastectomia total e estou com um expansor, optei pela restauração da mama por me sentir melhor com a prótese. Minha autoestima é a mesma desde sempre.
Neste quase um ano eu devo ter chorado umas quatro vezes, claro que bate tristeza, mas eu chorava e na sequência ia fazer minhas coisas, cuidar de mim. Vivo todos os dias da melhor maneira que posso. Tenho filhos lindos, pai e mãe, irmãos, um marido parceiro que está sempre ao meu lado – acho que estar segura e ser amada também é um antídoto valioso.
Saí da cirurgia e nunca senti dor ou tive qualquer complicação. Eu sou muito ativa, então, já estou fotografando alguns eventos e nunca deixei de namorar meu marido. Logo depois da cirurgia, em alguns momentos, estranhei a falta do seio, mas acredite: a gente se acostuma, e está tudo bem.
Todas as teorias sobre o que é ser mulher não dizem nada se você não se posicionar diante de si mesma, e ter carinho por você. A gente tem que se amar profundamente para encontrar a resiliência necessária e recomeçar. ”

Lucia de Menezes Farias, diretora de arte, 39 anos
“Eu senti o caroço no seio por dois anos e reportava isso à minha ginecologista, mas ela achava que não era nada. Mesmo depois de detectada uma anomalia do ultrassom ela disse para esperar mais seis meses e repetir o exame. Depois disso, nunca mais voltei no consultório dela.
Outro profissional detectou o câncer. Era 2015 e no mesmo ano comecei meu tratamento. Fiz quimioterapia, radioterapia e mastectomia completa. O que eu tinha de lidar, lidei de uma forma tranquila, acho que para mim o mais difícil foi escolher o tipo de tratamento. Muita responsa.
Cortei meu cabelo curtinho antes da quimioterapia porque eu sabia que ia cair e quando começou, eu mesma raspei em casa. Optei por não colocar silicone, mas coloquei o expansor. Meu nódulo já era grande, tinha em média dois centímetros e meio, então tive de tirar bastante pele.
Minha autoestima não foi atingida, é até bem visível quando saio na rua. O que mais mudou foi abraçar as pessoas, pois sinto o expansor e não acho agradável. Hoje me arrependo de ter colocado.
Todas as pessoas que conhecia ficaram do meu lado e sentir esse carinho foi muito importante. Terminei o tratamento, mas ainda tomo medicamentos como o bloqueador hormonal e, por causa dele, acabei entrando na menopausa.
Acredito que é importante não focar tanto no lado estético. Autoestima não é sobre cosmético, mas como você se sente. Vocês que estão em tratamento, se querem se maquiar, amarrar lenços, está tudo bem, e se não quiserem, tudo bem também.”

 

Jo Melo é mãe e problematizadora nata, especialista em marketing digital, editora e criadora da Revista Mães que Escrevem 

 

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