A periferia sem sangue de Helen Salomão
Mais nova fotógrafa retratada na série mensal da nossa Mari Cobra, a baiana que transformou ativismo em arte quase por acaso traz o próprio cotidiano à sua produção
29.01.2020 | Por: Mari Cobra
A fotografia de Helen Salomão sempre me impactou pela sua força estética e sua verdade na direção, sempre com enquadramentos potentes. Suas imagens tocam meu inconsciente e fico tentando traduzir todas as camadas de cada foto – dá pra sentir a revolução presente no seu trabalho. Baiana, a artista apresenta na sua produção sua realidade, seu cotidiano, o empoderamento de mulheres e homens negros, a periferia sem sangue, a poesia e a não-padronização dos corpos femininos. Ela já estudou na escola de arte e tecnologia Oi Kabum, já expôs no Museu de Arte da Bahia, no Fowler Museum da UCLA (Califórnia) e recentemente ganhou em primeiro lugar o concurso da IPPDH Mercosur.

Como você começou a fotografar? O que te motivou?
Depois de desistir de cursar Direito, decidi que ia cursar Design se conseguisse entrar na universidade pública. Nesse caminho, apareceu uma pessoa vendendo uma máquina fotográfica e decidi investir nela. Mesmo sem ter referências de fotógrafos e da fotografia no geral, e sabendo que a mesma não foi feita nem pensada para mim, vi a oportunidade de ter a arte perto. Comecei a estudar sozinha, e fui me apaixonado pelas descobertas que eu mesma fui buscando. Soube de um curso de fotografia para jovens de comunidade e me inscrevi, consegui passar, e foi nesse curso que me tornei artista. Comecei a mostrar meus escritos poéticos, a entender que a arte tinha que ser o meu ativismo e o o caminho para que eu e outras pessoas fossem protagonistas de suas próprias histórias.
Como é seu processo criativo? O que te inspira?
Depende do que tô sentindo, do que preciso entregar. Mas eu sempre tô ligada em tudo à minha volta, atenta aos lugares e às pessoas, criamos juntos. A leitura, a escrita e os diálogos sempre me levam para a criação também. O que me inspira são as pessoas, a vida no real, viver em comunidade.

O que é importante pra você na sua fotografia?
É a verdade que eu coloco nela, a ética na construção.
Tem fotógrafas favoritas?
Nay Jinknss, Amanda Tropicana, Isis Medeiros, Shai Andrade, Maiara Cerqueira, Milena Paulina.

O que tem produzido atualmente?
Tenho pensando em como nós, mulheres (principalmente negras), precisamos estar bem, nos mecanismos que usamos para seguir a vida, no quanto nos boicotamos, que não somos nossas prioridades, o quanto vivemos para os outros, o tanto de machismo e padrões que nos colocam. E a partir dessas reflexões estou buscando construir imagens com mulheres e autorretratos para mostrar/discutir sobre autocuidado e autocura.
Quais são suas metas?
Que a minha digital na história dê a mim e aos meus acesso a uma vida digna.
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Mari Cobra é diretora, roteirista e fotógrafa. Com um olhar característico para a potência feminina, seu trabalho retrata a beleza em sua essência. Além do documentário Nosso Sangue Nosso Corpo, é também autora do projeto Divinas, série de fotos analógicas dedicada a retratar a beleza de mulheres latino-americanas fora do padrão imposto pela sociedade
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