A playlist dos ovos de ouro
Não basta fazer música e sair na capa do caderno de cultura, na era dos streamings estar na playlist certa é também essencial
10.12.2020 | Por: Heloisa Aidar
Liniker é hoje uma das mais bem sucedidas artistas brasileiras no mercado internacional. Duda Beat conquistou disco de platina com o single-chiclete Bixinho, além de prêmios como Artista Revelação pelo Troféu APCA , pelo Prêmio Multishow de Música Brasileira e Melhor Show pelo WME Awards. Mariana Aydar levou o Grammy Latino com Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa. Djonga, que figura entre os maiores rappers nacionais, quebrou todas as barreiras sendo o primeiro brasileiro indicado ao prêmio americano BET, um dos mais importantes no universo mundial do hip-hop. E sabe o que esses artistas com estilos tão diferentes têm em comum além do sucesso? Todos constroem suas carreiras de forma independente.
Artistas independentes têm somado conquistas: eles foram maioria no Top 200 do Spotify em 2019, segundo pesquisa da ABMI (Associação Brasileira da Música Independente). E, contrariando previsões pessimistas, estão ganhando quantias consideráveis digitalmente e também alcance global. Um dos segredos do sucesso? Estar nas principais playlists das plataformas de áudio e, assim, chegar a milhares de pessoas de uma vez só.
Pra vocês terem uma ideia, para um artista emergente, ter uma música lançada em uma das grandes playlists oficiais das plataformas pode facilmente significar entre 80% e 90% dos plays gerais da faixa em questão. Exato: é como estar no lugar certo, na hora certa. E tem mais, arrisco dizer que ser escolhido para estar na capa de uma playlist dessas, seguida por milhares de pessoas, pode ter o mesmo peso de um destaque no caderno de cultura de um renomado jornal.
Jornalistas, não me matem! Nenhuma ferramenta ou aplicativo substitui o prazer que sinto ao ler um jornal, com um texto bem escrito, acompanhado de um belo café à luz da manhã. Mas o crescimento das plataformas digitais somado à criatividade dos seus editores – que criam playlists muito assertivas para todos os gostos e moods – mudou a forma de consumir música. E sejamos sinceros, quem aí não abraça com facilidade as sugestões oferecidas pelos players e seus algoritmos espertinhos? Não só aceitamos as dicas, como encontramos agradáveis surpresas pelo caminho.
A fórmula é lembrar, a cada lançamento, que não existe fórmula
Daí vocês (principalmente os artistas) indagam: Mas como faz pra entrar nessas listas? Essa é a pergunta de um milhão de dólares. E, me desculpem, eu vou ter que chover no molhado: não existe receita. Aqui na Altafonte, uma das principais distribuidoras independentes digitais, batemos muito na tecla de que a fórmula é lembrar, a cada lançamento, que não existe fórmula – e isso é ótimo!
A possibilidade de atingir o sucesso sem abrir mão da liberdade artística e de ser dono da sua própria arte transformou o mercado em um lugar mais justo e seguro para os artistas – se comparado ao passado. Nesse novo modelo de negócio que se construiu, os artistas podem ficar com até 80% do que é repassado pelas plataformas às agregadoras (lembremos que no formato antigo isso girava em torno de 10% ou 15%). A prática dos jabás, que por tantos anos subverteram a ordem no mundo musical e durante anos deram relevância para quem pagava mais, no mundos dos streamings é “mal vista”.
Hoje, é o clique do ouvinte que vale e esse é bem mais fácil de quantificar. Por aqui, quando falamos de negócios, falamos em termos de qualidade musical, de troca, de experiência e de tempo. De todo um mercado que se adapta à música e suas nuances e não o inverso.
O mundo já mudou. Ainda bem! E sem preguiça, seguimos na luta por mais e mais.
Heloisa Aidar é sócia e diretora executiva da Altafonte Music Publishing Brasil, que cuida das obras de renomados autores como Arnaldo Antunes, Letrux, Rubel , Criolo, Lenine, Duda Beat, entre outros. Ela também é fundadora da Pomm_elo, que além de coordenar a carreira de artistas, foi também um importante selo da cena indie.
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