A potência da representatividade

A fotógrafa Caroline Lima sabe exatamente de onde veio e pra onde quer ir. E ela vai levar um monte de gente junto

19.07.2019  |  Por: Mari Cobra

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A potência da representatividade

Força e autenticidade são as marcas do trabalho de Caroline Lima. Formada em Arquitetura e Urbanismo, a fotógrafa se dedica hoje aos retratos, atuando em projetos autorais e comerciais. Fascinada pelo poder da história e guiada por sua ancestralidade, ela publica em seu Instagram algumas das imponentes fotos que faz de pessoas inspiradoras. Ali, não só entendemos que representatividade importa, como somos brindados com um jeito maravilhoso de botar isso em prática.

Caroline tem 28 anos e raízes em Salvador, mas hoje vive em de São Paulo. Com suas fotos, encontra um lugar de fala e dá espaço a realidades diversas. Acredita na força dos encontros e das trocas para revelar a potência e o poder das pessoas. A seguir, a conversa que tivemos com ela. 

Como você começou a fotografar?
Quando eu tinha uns 13 anos, aos finais de semana, meu pai levava a câmera do trabalho pra casa. Era o início das câmeras digitais e pouquíssimas pessoas tinham acesso, era muito caras. Claro que eu ficava sempre na curiosidade de mexer, até que comecei pegá-la escondida pra fazer umas fotos. Começou aí.
Sempre tive interesse pela fotografia, mas nunca imaginei que fosse vir a ser minha profissão. Em 2011 consegui comprar minha primeira câmera e de lá pra cá descobri minha grande paixão pela fotografia. Me formei em Arquitetura, mas durante o curso já sabia que iria seguir os rumos da fotografia. 

O que mais te motiva?
Sempre gostei de me comunicar e a fotografia me proporciona isso. O que me motiva é com certeza poder contar histórias e enxergar repertórios que durante muito tempo foram desvalorizados e excluídos. 

Como é seu processo criativo? O que te inspira?
Meu processo criativo tem tudo a ver com estar conectada com as coisas da Bahia e com minha ancestralidade. Vou para a Bahia sempre que possível porque minha inspiração está muito lá. Sou movida por histórias de pessoas maravilhosas que estão por aí e também pelas histórias da minha família. 

O que é mais importante pra você na sua fotografia?
É ter um lugar de fala que foi silenciado durante muito tempo. As mulheres da minha linhagem mal podiam se expressar, ou melhor, nem liberdade elas tinham. Graças à luta de todas elas, hoje eu e outras pretas podemos falar. Também é muito importante pra mim poder fazer com que outras pessoas pretas sintam-se representadas. Eu acredito na potência do encontro e das trocas que tenho com as pessoas que  fotografo. Além disso, tem a importância de estar ocupando espaços predominantemente brancos e machistas. Pra você ter uma ideia: acabo de fazer uma campanha global para a Nike, fui a primeira mulher preta no Brasil a fotografar uma campanha dessa dimensão. É muito louco pensar que em 2019 uma fotógrafa negra fazendo grandes trabalhos ainda seja algo tão incomum. Mostra que seguimos nesse grande processo. As coisas ainda estão caminhando. 

Quais suas fotógrafas preferidas?
Atualmente ando acompanhando e curtindo o trabalho da Denisse Pérez e da Viviane Sassen. Mas tem um monte de mulher incrível fotografando nesse Brasilzão. 

Qual projeto-xodó? Que você tem mais orgulho?
É o Signos, de retratos. Com ele percebi a importância de as pessoas pretas se sentirem potentes e representadas. O projeto reverberou forte tanto nas pessoas fotografadas como em quem viu a exposição, e consequentemente em mim. Foi poderoso.

Quais são seus sonhos?
Eu sonho muito, todos os dias. Difícil responder essa pergunta objetivamente. Mas talvez, hoje, um dos meus maiores sonhos seja ir à África.

 

Mari Cobra é diretora, roteirista e fotógrafa. Com um olhar característico para a potência feminina, seu trabalho retrata a beleza em sua essência. Além do documentário Nosso Sangue Nosso Corpo, é também autora do projeto Divinas, série de fotos analógicas dedicada a retratar a beleza de mulheres latino-americanas fora do padrão imposto pela sociedade

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