Amor em francês
"Renunciei o meu posto de business women e um trabalho que me dava muito orgulho para um futuro desconhecido em outro país." Às vésperas do Dia dos Namorados, a comunicadora Camila Trama conta à Hysteria conta como tem sido viver o plot romântico dos sonhos na França
10.06.2022 | Por: Camila Trama
Considero-me sortuda quando analiso a minha linha do tempo. Era 2018 quando uma recrutadora me enviou uma mensagem por “Linkedinho” sugerindo uma entrevista para uma posição de coordenação em uma grande agência de Relações Públicas, destas que possuem escritórios nos cinco continentes. Eu não podia conter minha empolgação. A entrevista parecia estar indo bem. “Como você imagina sua evolução?” Não sei qual motivo me levou a uma resposta bastante equivocada: “Quero aprender francês”. Silêncio na sala. Éramos três presentes na reunião online. “É.. na verdade.. bom, vamos para outra questão.” A entrevista não foi bem sucedida, mas muitas coisas boas sucederam após aquele encontro virtual.
Mantive o meu trabalho em outra agência até que surgiu uma oportunidade de começar um negócio próprio. Animação total, muita dinamicidade, longas horas de labuta, adrenalina, choros e sorrisos. E aí, não me lembro muito bem se foi final de 2019 ou início de 2020 – que seria o mais caótico vivenciado por todos os humanos na terra -, sem saber o que o futuro guardava, em minhas andanças pela Internet, descobri um tal de “mapa dos sonhos”.
O mapa é uma ferramenta para você colocar em papel, de forma setorizada, todos os seus desejos. Pois bem. Na parte amorosa, coloquei: “Universo, por favor, por favorzinho, uma pessoa que seja gente boa, que goste de mim, me trate bem, me ensine muitas coisas.” E um “plus” um pouco curioso “- e se for estrangeiro melhor, para eu ainda aprender ainda mais”. Por mais ridículo que isto pareça, eu gosto de gringo. Brincadeira. O que eu queria dizer era: por mais ridículo que isto pareça, o universo realmente está trabalhando em nosso favor. Atenção com seus desejos! Eis que o cúpido realmente fez o serviço, e tcham l’amour francês.
Esta história de amor começou ‘on-line’ (sim, no Tinder) e teve um grande impeditivo físico com todas as restrições pandêmicas. Nos vimos pela primeira vez dois dias antes do lockdown e descobrimos que morávamos no mesmo bairro. Foram três meses de muita conversa antes do segundo date, quando fui até a casa dele para fazer uma lasanha – literalmente.
Confesso, que de certa forma, todo esse contexto foi positivo. Passávamos um bom tempo trocando mensagens, conversando e criando uma amizade sincera. Estávamos em ritmos diferentes, então, era praticamente uma troca de “cartas”. Resumíamos em um texto nosso dia e falávamos de como estávamos nos sentindo, algo bastante terapêutico dadas as circunstâncias. Eu me lembro de uma vez ter sentido um enorme desconforto com a demora para receber uma dessas “cartas”. Ele deveria estar ocupado, viajando, porque levou mais de um dia para retomar. Foi um sinal de que já estavam a mil dentro do meu corpo as substâncias do amor: adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, a serotonina e as endorfinas.
Ele estava no Brasil desde 2019, mas com os dias contados – no caso dois anos -, num programa de intercâmbio do trabalho. Ao longo desse processo, ele voltou para França para passar as férias e, entre idas e vindas, foi um ano de namoro à distância. Uma vida com dates contados. Nesse ritmo, sabendo que ele sempre iria embora, chorava de tristeza, pensando na despedida. Até que começamos a entender que precisávamos nos dar uma chance.
E aí, numa dessas passagens, depois de beber umas cervejas, a gente conversou, foi numa loja e comprou duas alianças. De brincadeira, mas tipo sério. E é bem zoado, porque elas não combinam. A dele tá gigante e ele usa no dedo do meio, tipo máfia. Porque no dia em que compramos, ele tinha bebido e o dedo tava inchadão. Agora fica caindo, rs. Coitado. Independente dos acessórios, nos casamos em março deste ano no civil, na França, com uma festinha para amigos. E eu voltei para Brasil para dar entrada no meu visto e começar todo um outro processo.
O amor é uma dádiva, mas o plot nunca é tão simples. Optei por renunciar meu posto de business women e um trabalho que me dava muito orgulho para um futuro desconhecido em outro país. Fiquei bastante dividida. Mas a verdade é que esta nova vida também me instigava, acredito que a curiosidade nos movimenta bastante.
Já assistiram Pocahontas? A música Lá na Curva sempre me tocou:
“O que eu gosto no rio mais
É que ele nunca está igual
A água sempre muda e vai correndo
Mas não podemos viver assim
E este é o nosso mal
E o pior é que acabamos não sabendo
Lá na curva o que é que vem
Sempre, lá na curva o que é que vem
Quero saber” (Trecho de Lá na Curva, Pocahontas)
Voltando. Em resumo, entre 2021 e este ano, já teve: namoro; viagens doidas que burlavam as regras de proibição da entrada de brasileiros em países europeus (por conta da pandemia); quebra de sociedade; encontro entre as duas famílias; casamento (com 40 pessoas dentro da nossa casa); cinco viagens entre França e Brasil para conseguirmos avançar em nossa vida a dois; duas mudanças de casa carregando todos os pertences de duas vidas inteiras; e 12 meses de Duolingo.
Apesar de inspirador, viver não é fazer parte de um filme da Disney (disse a Leonina, com master em drama). Mas sim, por trás dos cortes de reels e efeitos das fotos, o cotidiano pode ser brando e ter lá suas intempéries. Estar em uma nova realidade também tem seu lado B e para evoluir é preciso um bocado de tempo, esforço e paciência – isso a Gl0b@ não mostra, rs. Idem para o amor de um casal jovem aprendendo a dividir espaços e a vida.
Sigo na luta de aprender o idioma enquanto vamos construindo nossa história por aqui, colocando um tijolo de cada vez. Continuo vendo beleza na não linearidade do que tange a nós estando vivos, e sabendo que a água está sempre correndo. A verdade é que todos temos oportunidades lindas pela frente. E mesmo que tenham partes não muito fáceis, existe muita história a ser escrita. Isso vale para todos os setores de nossa vida.
Por aqui, tenho tido vivências que me marcarão para sempre, não sei se um dia me acostumarei com a beleza desta cidade que me surpreende a cada esquina. Faz sentido todo o romantismo que a ela atribuem. Para todos que leram até aqui, lhes desejo um final de semana “plein d’amour,” com muito chamego e fungada no cangote. Ao meu @rroba, uma pequena declaração para dizer que o “mapa dos sonhos” deu muito certo, “J’ai de la chance”, tenho aprendizados valiosos nesta nossa aventura compartilhada. Fica a dica. Há!
Camila Trama atua como RP criando estratégias de comunicação e divulgação, mas é jornalista de formação. Uma apaixonada por histórias, pela arte das conexões com propósito e por evidenciar e trilhar caminhos para que marcas criem autoridade e reconhecimento para seu público.
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