Ativismo de biquíni
Conheça a nova marca de moda praia Cosmo Swim, que propõe o conforto na areia como se estivéssemos na nossa casa
14.03.2018 | Por: Maria Clara Drummond
Lucia Hsu veste suas criações (fotos: Kenny Hsu)
Lucia Hsu é fashionista nata, feminista ferrenha, dessas que fazem ativismo nas ruas e nas redes, e também rata de praia desde que se entende por gente – seu pai era surfista. Cosmo Swim, sua marca de biquínis que criou em novembro de 2017, é portanto uma junção de quem ela verdadeiramente é – tanto que ela que posa de modelo para várias fotos, como essa aí em cima: “E ainda por cima tenho quase todos os signos em água”, brinca ela. Lucia aqui une o útil ao agradável: desenha as peças ultraminimalistas, bem de acordo com seu estilo de vida, enquanto cria uma comunicação totalmente de acordo com seus valores, sem padrões de beleza inalcançáveis e sem photoshop, tudo fotografado pelo seu marido, Kenny Hsu. A gente bateu um papo rápido com ela para saber como é esse processo.

Por que você escolheu o biquíni para contar essa história?
Eu procuro ter sempre em mente as reais necessidades da mulher em seu momento de lazer. Ela precisa se sentir amparada pelo biquíni, já que é uma peça de roupa que expõe muito o nosso corpo, e ainda por cima em público. Eu queria criar peças que nos deixassem um pouco mais livres de neuroses e mais confortáveis para mergulhar, nadar, correr, sentar de perna aberta, e depois ainda sair da praia e ir para um barzinho. É fácil fazer uma estampa escrito FEMINIST, eu quero mesmo é algo que influencie o cotidiano da mulher.
E você ainda usa os biquínis em festas e blocos de carnaval.
Eu acho que quanto mais utilidades uma peça de roupa tiver, melhor. Acredito que o mundo caminha pra isso. Quero que as cores e modelagens básicas sirvam como um blank canvas. Já usei meus biquínis por baixo de transparências em festas, com calça e e blazer, com camisa social grandona por cima e um cinto, e me sinto sempre bem vestida. Depois que criei a marca, comecei a trabalhar mais de casa, então passei a ficar apenas de biquíni. O tecido que eu uso se chama fluity, é geladinho, e descobri que marcas de underwear também usam o mesmo tecido, e realmente faz a diferença, é muito confortável, mais que muita calcinha e sutiã.

Quando você se descobriu feminista?
Em 2012. Eu tinha 26 anos, e me reconectei na internet com uma ex-colega de faculdade que é supermilitante, e percebi que não estava louca ao me indignar com coisas corriqueiras na minha vida, como desigualdade de divisão de tarefas domésticas e assédio de rua. Nessa fase, eu tinha uma militância bem inflamada, rompi com várias pessoas, mas depois que reagi a um assédio de rua e fui violentamente agredida pelo assediador resolvi canalizar isso de outras formas, e descobri que posso tentar fazer a diferença de uma forma que combine com a minha personalidade e me faça bem.
A comunicação da marca serve como um canalizador do que você acredita?
Ainda estou descobrindo muitas coisas porque não quero que seja uma comunicação “lacradora” como de tantas outras marcas com uma proposta parecida com a Cosmo. Acho importantíssimo essas meninas jovens e transgressoras, que dão close com cabelo colorido e lambem o pelo do suvaco. Se eu, quando tinha 20 anos, tivesse conhecido uma marca que conversasse assim comigo, teria sido incrível. Mas já tenho 32 anos, e quero conversar com mulheres da minha faixa etária, que passaram boa parte da juventude sofrendo lavagem cerebral da mídia tradicional machista, e sentem falta de um universo visual que se posicione de uma forma mais leve e madura. Sinto que existe um limbo: ou marcas padrão demais, ou transgressoras demais. Mas tem sido divertido colocar em prática meus devaneios visuais.

E como tem sido a resposta?
Eu procuro criar mensagens empoderadoras no Stories do Instagram. A resposta a isso é incrível, de mulheres que vivem em cidades menores muito mais machistas que o Rio, e que fazem relatos emocionantes sobre como estavam precisando de apoio. As respostas negativas vêm de pessoas que acham caro que um biquíni de modelagem tão simples, sem estampa e frufrus, possa custar o preço que custa, mas procuro ser bem honesta, e explicar que o processo é caro mesmo, principalmente com acabamento e tecido de qualidade, e sem explorar os funcionários. O barateamento só seria possível se eu produzisse em larga escala ou abrisse mão de alguma dessas coisas.
Cosmo Swim pode ser encontrada no site cosmoswim.com, na oson.com.br e uma seleção menor na loja física da Academia da Ahlma, que fica na Rua Carlos Góes, 208, Leblon, Rio de Janeiro
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