Chegando aos 50. Num corpinho de 50

A jornalista Lena Castellón fala sobre envelhecer com satisfação usando All Star e sem mentir a idade nos apps de paquera

03.10.2018  |  Por: Lena Castellón

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Chegando aos 50. Num corpinho de 50

Nunca menti a idade. Quer dizer, menti duas vezes. Uma para ver o filme Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981). A censura era para 14 anos e eu estava com 13. A outra quando um cabeleireiro, que estava me fazendo a corte, perguntou a idade do meu marido. Na época eu estava com 41 anos e ele com 24. Na hora, imaginei a possibilidade de o cabeleireiro fantasiar que sou uma mulher insaciável porque escolhi um cara bem mais novo (algo que já tinha escutado). E como eu não queria despertar sonhos eróticos naquele homem solitário, menti a idade do marido. Disse 27.

Vinte e sete?! Quando contei essa história para as amigas, elas gargalharam até chorar. “Deveria ter dito logo 45!” Mas seria mentir demais, protestei. Além do que, esse negócio de idade nunca tinha me importado mesmo.

Hoje vejo que a idade é algo que faz a gente pensar demais. Em 49 anos de existência, nunca aprendi sobre as agruras do tempo como tenho aprendido nos últimos meses. Primeiro, um detalhe importante. Não aparento a idade que consta no meu RG. E isso desde adolescente. Minha vida inteira foi assim: espantando pessoas, uma reação normal quando disse que estava com 30, 35, 40, 46 e agora 49.

Nunca fiz nada para parecer mais jovem. Quase não uso maquiagem, vivo esquecendo os cremes para o rosto e não pinto o cabelo (tenho três fios brancos, pelo que deu para checar). Conto com a genética e com a manutenção do meu estilo. Não me desfiz das coisas de que gosto por ficar mais velha. Mantive os tênis, os jeans, a mania de camiseta e a franja. Ah, e os óculos (sou míope desde os 14). Continuei “igualzinha”, como costumam dizer (um exagero).

Mantive o estilo por conforto e por satisfação comigo. Eu me sentia ótima com meus 35, 37 anos. E depois também. Quando me casei pela segunda vez foi com um cara 17 anos mais novo, só que a diferença nunca de fato nos atrapalhou. E podia ter atrapalhado, não pela gente, e sim pelos outros. Quando começamos a namorar ele tinha 20.  Meu RG na época era mais velho do que ele. Aguentamos piadinhas e tudo mais, mas sobrevivemos e viramos o casal que todos admiravam. Adotei o sobrenome dele, o que não tinha feito na primeira união (na qual tive dois filhos, hoje com mais de 20 anos). Durante esse período, raras vezes pensei “como será quando eu envelhecer?”, porque tinha muita confiança no meu casamento. Até que… ele acabou.

Não vou me alongar sobre a separação. Mas foi uma provação. Tive depressão, pânico, crises. Precisei me reinventar e adotei a corrida. Minha autoestima tinha desaparecido, então correr foi um apoio para sair do fundo do poço (junto com terapia). Corri debaixo de chuva, corri enquanto chorava, corri em estradas. Quando percebi, estava disputando meia maratona. Era uma Forrest Gump quarentona.

Então, veio a fase em que eu me sentia melhor e poderia conhecer alguém de novo. Entrei nos aplicativos de relacionamento sem ainda ter atinado com a coisa da idade. Não menti em nenhuma das minhas descrições. Surpresa! Descobri um monte de novinhos com fetiches por mulheres mais velhas. Qual a razão? Mulheres mais velhas são mais experientes, sabem o que querem e como querem. E ainda têm aquelas que estão sozinhas há muito tempo e, então, topam sexo mais facilmente. Isso eu ouvi de alguns caras que me procuraram.

Os 40 são os novos 30? E os 50 são os novos 40? As perguntas não param. O que acontece comigo, que farei 50 em novembro e sinto ter força, vontade, desejos, sonhos e ambições como quando estava para fazer 40?

Comecei a pensar mais na idade por causa disso, entretanto não era algo que me perturbasse. Mas confesso que fiquei um pouco chateada com essa possibilidade de me acharem “necessitada”. Fui tocando a coisa em paz até que conheci um homem bacana, interessado e com quem tinha muitas afinidades (observação: conheci num app que te faz muitas perguntas e você vai respondendo para afinar a busca). A gente conversava todo dia, a toda hora e, com isso, o entusiasmo crescia. Ele era 13 anos mais novo e tínhamos um percentual de afinidades acima de 85%. Promissor, não?! Só que um dia ele sumiu.

Mexeu com minha confiança. Mas resolvi tentar com outros. Não houve nada extraordinário – apenas me diverti com uma ou outra história. De repente, meses depois, o cara reapareceu. Explicou que tinha sumido porque minha idade o assustara. Com o lance engrenando, ele pensou na diferença entre nós. Deu a entender que eu era velha demais para ele, sem dizer isso exatamente. Comentou que eu já tinha filhos grandes e que talvez ele pense futuramente em ter um, o que eu não deveria mais querer, certo? Até aquele dia era 100% certeza que eu não queria mais filhos. Foi ele falar nesse assunto que passei a me olhar como mulher que em breve não estaria mais em idade de reprodução. Foi um dos pensamentos mais doidos que me aconteceram nesse período. Não conseguia raciocinar se era bom ou ruim. No fim, viramos amigos.

Desde esse baque, passo mais momentos pensando na idade. Os 40 são os novos 30? E os 50 são os novos 40? As perguntas não param. O que acontece comigo, que farei 50 em novembro e sinto ter força, vontade, desejos, sonhos e ambições como quando estava para fazer 40? E isso sem ter deixado de menstruar. Preciso parecer jovem para ser aceita na turma dos que querem uma boa transa, uma viagem legal ou ingressos para o Lollapalooza? Ou tenho de deixar de fazer coisas que “não ficam bem na minha idade”? Deixo passar a vontade de comprar um coturno? Devo cortar o cabelo curtinho? O que as pessoas esperam de uma mulher de 50 anos?!

No dia 31 de dezembro de 2017, vesti meus tênis de corrida e parti para um treino com uma ideia na cabeça: ao completar 50 anos quero estar melhor do que estava quando fiz 49. Não é que não estivesse bem. Continuo aparentando menos idade do que tenho. Porém a questão não é essa. Não é a aparência. É a sensação de evolução. Quero comemorar 50 num corpinho de 50, e isso tem de significar que estou bem, da melhor maneira que poderia estar.

Para isso, adotei treinos funcionais, me esforço para comer direito, me mantenho disposta a conhecer novas pessoas e cuido dos hormônios e da vitamina D, entre outras coisas. Também decidi combater a ideia de que a vida agora é só ladeira abaixo. E rebato a ideia de “espírito jovem” como se só pudéssemos ser felizes enquanto mantivermos o frescor da juventude. Por esse raciocínio, o resto da vida é uma merda. Não precisa ser desse jeito. A gente pode ficar bem aos 50, aos 60 ou aos 70, com rugas ou cabelos brancos ou com intervenções plásticas e tintura. Da minha parte, vou deixar os cabelos embranquecerem e não pretendo usar botox ou preenchimento. Mas tudo bem quem quiser fazer. Vale buscar o que for melhor para a gente. Que nos inspire a atriz inglesa Helen Mirren (73 anos).

Antes disso, claro, tenho os 50 para completar. Até lá, capricho nas minhas estratégias para ficar bem: alongamento, prancha, agachamento, sobe-desce de escada, corrida, caminhada com o cachorro, beijos na boca e na cama (sim, tem crush na história), comida em casa, cerveja com amigos, nerdices com os filhos e noites de cinema e música. Novembro, pode vir.

 

Lena Castellón é jornalista e escreve sobre temas que vão de saúde a marketing, de esporte a negócios da mídia. Tem dois filhos adultos, corre, usa apps de paquera e faz aniversário em novembro

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