Cinema brasileiro sem sair de casa

E não é na Netflix! Montamos uma lista com oito filmes imperdíveis à disposição na plataforma Afroflix (nunca ouviu falar? já não era sem tempo!)

23.01.2018  |  Por: Equipe Hysteria

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Cinema brasileiro sem sair de casa

O curta 'Quintal', de André Novais Oliveira

Afroflix é uma plataforma online gratuita criada pela jovem diretora Yasmin Thayná para divulgar produções audiovisuais dirigidas, produzidas ou protagonizadas por pessoas negras. São filmes, séries, web-séries, programas, vlogs e clipes que revelam um conteúdo brasileiro dinâmico, vivo e muito criativo, feito em épocas diferentes. Se mais de 50% da população brasileira se autodeclara negra ou parda, por que o audiovisual não reflete isso em suas produções? Para pensar, debater e procurar consumir novas narrativas.

Nossa pesquisadora – e rata dos mais variados formatos de tela – Isabela Mota separou oito filmes pra você virar habitué da Afroflix.

 

Amor Maldito – longa, ficção, RJ, 1984 – Diretora: Adélia Sampaio

Adélia Sampaio é considerada a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil e escolheu como tema um romance lésbico, tratando dos tabus e preconceitos de nossa sociedade. Só por essa apresentação, Amor Maldito já merece ser visto e apreciado. Baseado em uma história real ocorrida em Jacarepaguá, no Rio, o filme traz o romance entre a executiva Fernanda (Monique Lafond) e a modelo Suely (Wilma Dias), e flutua entre memórias e cenas de tribunal. Adélia não conseguiu financiamento para a produção e o fez num sistema cooperativo, em que atores e equipe receberam somente ajudas de custo. Mesmo com muitos obstáculos, o filme é um marco no cinema nacional: botou questões LGBT em pauta num cenário pouco propício. Adélia está sendo redescoberta e celebrada em festivais de cinema que valorizam seus esforços precursores.

Elekô – curta, experimental, RJ, 2015 – Direção: Coletivo Mulheres de Pedra

Mulheres de Pedra curta, documentário, RJ, 2014 – Diretora: Fernanda Almeida


Quantas narrativas de mulheres negras em primeira pessoa você conhece? Mulheres de Pedra é um coletivo de
Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que tem como objetivo valorizar o protagonismo da mulher negra. No curta Elekô, o coletivo usa uma linguagem experimental para falar poeticamente de como a mulher negra se vê diante de um Brasil historicamente racista. Já o curta documental que leva o nome do coletivo (Mulheres de Pedra) explica a formação da rede e suas atividades.

Pouco Mais de Um Mês, curta, ficção, MG, 2013 – Diretor: André Novais Oliveira

Quintal, curta,  ficção, MG, 2015 – Diretor: André Novais Oliveira

A Afroflix traz vários curtas da produtora Filmes de Plástico, formada por André Novais, Gabriel Martins, Maurílio Martins e Thiago Macêdo Correia. O grupo de Contagem (MG) costuma trabalhar coletivamente: quando um está na direção, outros executam funções distintas. Vale ver tudo deles! Os dois curtas aqui destacados estiveram na Quinzena dos Realizadores em Cannes e são duas preciosidades. O diretor André Novais sempre chama amigos, parentes e não-atores para os papéis, trazendo um resultado espontâneo e inventivo que dá gosto de ver. Trabalhando na fronteira entre ficção e registro documental, ele consegue trazer uma visão única ao cotidiano de Contagem, indo desde o naturalismo até um inusitado realismo fantástico.

Noturna – curta, ficção, AL, 2014 – Diretor: Nivaldo Vasconcelos

Mwany – curta, documentário, AL, 2013 – Diretor: Nivaldo Vasconcelos


Para experimentar sair um pouco da predominância de produção audiovisual na região Sudeste, indico os curtas alagoanos de Nivaldo Vasconcelos. Como diz o diretor na cartela inicial do filme
Noturna: “Fazer cinema em Alagoas é um ato político.” Este filme acompanha os dias e noites de uma mulher trans e começa com um plano amarelo de estrada que promete levar para além do arco-íris. Nessa observação do cotidiano da protagonista, combinada com inserções mais experimentais e plásticas, Nivaldo apresenta uma mulher complexa: zelosa pela família e religiosa, mas que também fuma um e se prostitui à noite. Já no curta documental Mwany, Nivaldo nos apresenta mais uma mulher forte como protagonista: Sónia, moçambicana residente em Maceió que veio para o Brasil acompanhada de sua filha de 6 anos. Sónia traz em seus depoimentos a riqueza das referências culturais de seu país de origem, carregadas de histórias fortes.

Picolé, Pintinho e Pipa – curta, ficção, RJ, 2006 – Diretor: Gustavo Melo

Um curta infanto-juvenil divertido. Neste filme, cinco crianças que moram numa favela passam por várias aventuras para aproveitar a passagem de um carro que troca vidro e ferro velho por picolé, pintinho e pipa. A maioria dos adultos só serve para atrapalhar a corrida deles morro abaixo e morro acima em busca da coisa mais importante da vida naqueles minutos: garrafa vazia e bacia de metal imprestável para trocar pelos brindes.

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