Com vocês, ‘Blasfêmea’!

Antonia Pellegrino escreve sobre a série que estreia segunda-feira aqui na Hysteria, para Ver, Ler e Ouvir

20.04.2018  |  Por: Antonia Pellegrino

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Com vocês, ‘Blasfêmea’!

Dia 23, segunda, estreia Blasfêmea, minha janela de múltiplos formatos na plataforma Hysteria. Flores, filhos, Prestobarba, sexo, casamento, paquera, poder, bonecos de plástico, não é não, democratização do desconforto, surubinha de leve, homem gentil, artigo quinto da constituição, foder gostoso. No Blasfêmea cabe todo tipo de assunto, desde que tratado de uma perspectiva feminista.

Feminismo é esta ideia radical de que mulheres são gente. O machismo é o conceito que se baseia na supervalorização das características físicas e culturais associadas ao masculino, pela crença de que homens são superiores às mulheres.  81% dos homens concorda que há machismo no Brasil, e 95% das mulheres também. Precisamos falar sobre machismo.

Heterossexual, fisicamente apto, forte, corajoso, ativo, sexualmente experiente e sempre pronto para transar, fala firme, sempre no controle, sabe se defender, não chora, trabalha, provém, não comete erros, não desiste, competitivo, bem-sucedido, dominante em relação à mulher. O machismo coloca os homens dentro de uma caixa apertada, dentro da qual muitos já se sentem desconfortáveis. Afinal, quem aguenta?

É por isso falamos em masculinidade tóxica. Ser homem, em boa parte das culturas ocidentais e orientais, das camadas populares às altas, é ser medido pela régua da violência, sexo, status e agressão. Tá na cara: o machismo, que é terrível para as mulheres, atinge a todos.

Segundo pesquisa recente da ONU Mulheres, 66,5% dos homens não falam com os amigos sobre medos e sentimentos; 45% gostariam de não se sentir obrigatoriamente responsáveis pelo sustento financeiro da casa; 45,5% desejam de se expressar de modo menos duro ou agressivo, mas não sabem como; e 54% adorariam ter mais liberdade para explorar hobbies pouco usuais sem serem julgados. Essa mesma pesquisa mostra que também não é fácil para eles lidar com a figura do “herói durão” e com o ideal da virilidade, tendo que provar que é forte, provedor e poderoso.

Mas eu disse lá em cima que o Blasfêmea olha para o mundo através do feminismo, e tou aqui falando sobre homens. Porque tenho certeza de que ou vamos juntos, ou não iremos a lugar algum. Ou compreendemos que essa reconexão entre mulheres e homens é para todos, ou não será para ninguém. Ou expandimos o nosso sentido de humanidade, ou desumanizamos geral.

A boa nova é os avanços das lutas humanitárias são sem volta. Coisas que antes eram toleráveis, deixaram de ser. Não porque o feminismo tenha tornado as mulheres mais intolerantes. Mas porque aprendemos a nos manifestar sobre o que sempre nos limitou, machucou, destruiu. Só não tínhamos a coragem de dizer: “Para.”

Os debates avançaram muito, mas a estrutura permanece praticamente intacta. Para quem implica com a luta e chama de mimimi, radicalismo, exagero, eu digo: exagerada é a estrutura. Exagero são 18 brancos homens trancados dentro de uma sala em Brasília, numa comissão que pretende analisar um projeto de lei que amplia a licença-maternidade em caso de filho prematuro, e acabam por inserir no texto uma espécie de estatuto do nascituro que vai criminalizar, encarcerar e matar milhares de mulheres – além das milhares que já morrem, são presas e criminalizadas por fazerem uma escolha de cuidado. Isso sim é radical. E o Brasil assistiu a isso em novembro de 2017, no debate da PEC 181, não foi na era da pedra lascada.

Blasfêmea é para quem acha que essa reconexão entre homens e mulheres já foi feita, não é necessária, já deu. Pra quem quer fazer esta reconexão mas ainda não sacou seus caminhos. Blasfêmea são muitos formatos para dizer que o feminismo é esta ideia radical que de mulheres são gente. E saibam: ficaremos felizes no dia em que não precisaremos mais lembrar ninguém disso.

 

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