Conheça as artistas-curadoras da 33ª Bienal de São Paulo

Um pequeno perfil das mulheres que foram escolhidas para organizar quatro das sete mostras coletivas do mais importante evento de arte da América Latina

06.09.2018  |  Por: Piscina

image
Conheça as artistas-curadoras da 33ª Bienal de São Paulo

Detalhe da obra 'Generators', de Wura-Natasha Ogunji (2014)

Em Afinidades Afetivas, título escolhido pelo curador espanhol Gabriel Pérez-Barreiro para a 33a Bienal Internacional de São Paulo, a proposta curatorial busca valorizar a fruição individual das obras e não um recorte que direcione a uma compreensão previamente estabelecida.

Para isso, o curador propôs 12 projetos individuais e sete mostras coletivas organizadas por sete artistas-curadores que, segundo ele, tiveram “total autonomia na concepção de suas mostras, tanto uns aos outros quanto à curadoria geral. As únicas limitações impostas a eles foram de ordem prática, relativas a orçamento e ao uso do Pavilhão da Bienal”.

São eles: Alejandro Cesarco (Aos nossos Pais); Antonio Ballester (Sentido/Comum); Claudia Fontes (O Pássaro Lento); Mamma Andersson (Stargazer II); Sofia Borges (A Infinita História das Coisas ou O Fim da Tragédia do Um); Waltercio Caldas (Os Aparecimentos)e Wura-Natasa Ogunji (Sempre, Nunca).

Cada vez mais interessadas na curadoria voltada às práticas de artistas mulheres, resolvemos apresentar as propostas das artistas-curadoras convidadas, de modo a conhecer o trabalho delas e dos artistas que integram suas propostas expositivas.

 

Claudia Fontes

Começaremos a série com O Pássaro Lento, proposta de Claudia Fontes, artista nascida em Buenos Aires (Argentina, 1964)  e que agora vive e trabalha em Brighton, Inglaterra.

Através de sua obra, Fontes investiga modos alternativos da percepção da cultura, natureza, história e sociedade que derivam dos processos de descolonização, sejam eles pessoais, interpessoais ou sociais.

Foreigners , 2016

Em um de seus trabalhos mais recentes, uma instalação em grande escala para o pavilhão argentino na Bienal de Veneza de 2017, estão representados em uma cena congelada um cavalo, uma mulher e um jovem que lidam de maneiras diferentes com o mesmo paradoxo: uma crise se desenvolve e seus sintomas são, ao mesmo tempo, o problema que os causa. The Horse Problem é inspirado em ícones culturais do século XIX sobre os quais a identidade cultural argentina foi artificialmente construída. Saiba mais sobre a obra aqui.

Já em sua proposta para a 33a edição da Bienal Internacional de São Paulo, Fontes trata da lentidão.  O ponto de partida de O Pássaro Lento surge quando a artista se pergunta sobre em qual situação um pássaro sentiria vertigem, e para a artista isso ocorreria quando a velocidade em que voa é tão lenta que corre o risco de cair. Em contraponto ao fetiche moderno de velocidade, a artista e os artistas por ela convidados apresentam trabalhos de temporalidade expandida. “[…] Nossa espécie vem sendo treinada desde a infância para desprezar a vagarosidade e desejar rapidez. Como resultado, todos nós agora temos dificuldade de imaginar outros meios de estar consigo mesmo e com os outros.”

Com exceção de Roderick Hietbrink (Holanda, 1975), todos os artistas convidados desenvolveram obras comissionadas especialmente para a ocasião: Ben Rivers (UK, 1972), Daniel Bozhkov (Bulgária, 1959), Elba Bairon (Bolívia, 1947), Katrín Sigurdardóttir (Islândia/EUA, 1967), Pablo Martín Ruiz (EUA, 1964), Paola Sferco (Argentina, 1974), Sebastián Castagna (Argentina, 1965) e Žilvinas Landzbergas (Lituânia, 1979).

 

Karin Mamma Andersson

O trabalho de Karin Mamma Andersson (n.1962, Luleå, Suécia) é inspirado pelo imaginário de filmes, cenografias de teatro e interiores que resultam em composições expressivas e oníricas. Suas principais referências incluem a pintura figurativa nórdica da virada do século XX, arte “folk”, local ou vernacular. Sua temática envolve frequentemente paisagens melancólicas e cenários domésticos onde grossas camadas de tinta se alternam a texturas de cores lavadas. Andersson graduou-se na Royal University College of Fine Arts, em Estocolmo, onde vive e trabalha até hoje.

Abaixo, uma seleção de trabalhos da artista e um mini-doc de 24 minutos em que Andersson mostra seu estúdio, fala sobre suas influências e sobre seu processo criativo:

Em Stargazer II, Andersson apresenta seu próprio trabalho em diálogo com obras de artistas que inspiraram e influenciaram sua produção, dentre eles: ícones russos do século XV, Henry Darger (EUA, 1892-1973)* e Dick Bengtsson (Suécia, 1936­-1989), artista sueco que criava a partir de um processo bem semelhante ao de Andersson ; a cineasta Gunvor Nelson (Suécia, 1931); e o piloto de caça e artista sonoro Åke Hodell (Suécia, 1919-2000).

Glömd, 2016

Em um breve contato com as obras dos artistas selecionados por Andersson, fica evidente a ressonância que estes têm em seu trabalho. “Estou interessada em artistas que trabalham com a melancolia e a introspecção como um modo de vida e uma forma de sobrevivência”, afirma.

 

Sofia Borges

Sofia Borges nasceu em Ribeirão Preto (1984) e atualmente vive entre São Paulo e Paris. Formou-se em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo em 2008 e nos anos que se seguiram à conclusão do curso recebeu inúmeras premiações (para ver o CV completo da arista clique aqui). Já em 2012, era a  a artista mais jovem a ser convidada para participar da 30a Bienal de São Paulo. Sofia já teve mostras individuais em Paris, Lisboa, Amsterdã, Viena, São Paulo e Cidade do México, além de ter trabalhos apresentados em coletivas no Brasil, nos EUA, na França, na China e no Qatar. The Swamp [O Pântano], livro autoral que desenvolveu com base na exploração de cavernas pré-históricas no Sul da França, ganhou o First Book Award e foi lançado junto a uma individual na PhotoLondon 2016.

A obra de Sofia Borges envolve questões sobre a representação e trata da relação entre matéria e significado. Tendo a fotografia como linguagem principal, a artista busca em seus trabalhos extrair os pontos de contato que a imagem pode ter com o real, com o mundo. Em sua pesquisa, as fotografias são ponto de partida, tornam-se matéria-prima de um longo processo em que as imagens assumem diferentes papéis de acordo com contextos específicos.

Pintura, Cérebro e Rosto, 2017

A Infinita História das Coisas ou o Fim da Tragédia do Um, proposta de Sofia Borges para a 33a Bienal de São Paulo, tem como ponto de partida interpretações sobre a tragédia grega para investigar os limites da representação. Em seu projeto expositivo, uma seleção de peças específicas estarão lado a lado com obras comissionadas de Jennifer Tee (Holanda, 1973), Leda Catunda (Brasil, 1961), Sarah Lucas (UK, 1962) e Tal Isaac Hadad (França, 1976), entre outros. Segundo a divulgação da Bienal, uma das particularidades da proposta de Borges está nas ativações que ocorrerão ao longo da duração da mostra.

 

Wura-Natasha Ogunji

Wura-Natasha Ogunji (África do Sul, 1984) vive entre Austin (EUA) e Lagos (Nigéria). Seu trabalho transita entre desenhos, vídeos e performances. Seus desenhos feitos em grafite, tinta e bordados à mão sobre papel vegetal são inspirados nas interações cotidianas que ocorrem na cidade de Lagos, das mais íntimas às mais extraordinárias. Já suas performances exploram a presença feminina no espaço público e tratam de questões como trabalho, lazer, liberdade e banalidades.

Em The Kissing Mask, performance de 2016, a artista tem como ponto de partida a questão “Who are you kissing when you kiss a mask?”[Quem você está beijando quando beija uma máscara?]. A máscara é usada para interromper as expectativas do espectador, uma ruptura nos modos de interação que conhecemos e nos são familiares. Parafraseando a artista, a máscara oferece experiências separadas, de outro mundo, não legitimadas, que abrem um espaço dentro das formas usuais de interação.

Generators, 2014

Com o título Sempre, Nunca, a proposta de Ogunji para a Bienal apresenta um diferencial: é composta somente por obras comissionadas especialmente para a mostra, feitas apenas por artistas mulheres que criaram trabalhos por meio de um processo curatorial colaborativo e horizontal. As artistas convidadas são: Lhola Amira (África do Sul, 1984), Mame-Diarra Niang (França, 1982), Nicole Vlado (EUA, 1980), Ruby Onyinyechi Amanze (Nigéria, 1982) e Youmna Chlala (Líbano, 1974), que segundo Ogunji, têm uma produção que, assim como seu trabalho, “concilia aspectos íntimos (como corpo, memória e gesto) a épicos (arquitetura, história, nação)”.

 

Textos originalmente publicados no site Piscina-art

0 Comentários

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *