Corrida de saco: meu banho de autoestima

Finalmente vamos adentrar junho, este mês que me traz a sensação da vitória, dos olhares surpresos e das mãos cheias de brinde

29.05.2019  |  Por: Isabel Guéron

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Corrida de saco: meu banho de autoestima

Eu queria que tivesse um campeonato de corrida de saco. Mas ainda estamos em maio, e as festas juninas nunca são antecipadas, só adiadas. Julinas, agostinas, até setembrina já vi. Mas em maio, nunca. E eu precisava tanto.

Porque eu nunca perdi. Em toda a minha infância, entre festas na escola, sítio dos primos e a vila da minha avó, eu venci todas. Todas! Não tinha pra ninguém. Uma vez em Teresópolis, eu estava no meu sétimo brinde quando a dona da festa me proibiu de competir. Eu já tinha faturado uma mini calculadora, um aquaplay, dois pega-varetas, o jogo do mico preto, um super trunfo e por último um chocolate em formato de guarda chuva, com gosto de parafina. Para me desanimar no meu êxito, eu percebi.

Mesmo adulta, já mãe, ganhei um jantar no japonês ao vencer de lavada a corrida entre pais e professores. Eles ainda estavam indo e eu já voltava. Inclusive a professora de educação física! Foi uma oportunidade, aliás, de me entrosar com aquelas mães tão diferentes de mim. Minha vitória foi um sucesso. Um truque da infância.

A auto estima na estratosfera, o gostinho de ganhar, as mãos cheias de brinde

Essa sensação que eu queria! A auto estima na estratosfera, o gostinho de ganhar, as mãos cheias de brindes e o sorriso colado. Porque era isso que me definia, essa certeza. Embolar o vestido caipira, segurar as duas pontas do saco de farinha, juntar os pés e ir aos pulos. Andar nunca, só pular. Para frente, sem olhar pro chão. E nem precisa pular tão alto que é pra não tropeçar.

Porque às vezes parece que estou andando em círculos, patinando feito um cachorro no ladrilho, feito um hamster naquela rodinha gigante. Repetindo os caminhos como um autômato, tentando cumprir uma tarefa que eu não sei bem qual é. Já estou esquecendo de tudo aquilo. De quem eu achava que seria.

Só uma corrida de saco será capaz de jogar meu olhar de novo para o horizonte, levantar meu queixo. Esse peso nos meus ombros eu sei que no terceiro pulo se dissipa, feito fumaça. A linha de chegada, as pessoas rindo dos tombos quando até perder podia ser divertido. O suor com recompensa no fim.

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