Dicas valiosas para quem vive na zona indefinida dos freelancers
Exercitando o corpo e o cérebro num mercado que requer musculatura
28.03.2018 | Por: Livia Saraiva
Não sei quem disseminou esse papo bem-intencionado de que devemos buscar autonomia profissional, termos nossos próprios negócios e escolhermos a que horas vamos à academia, mas se esqueceu de dizer o mais importante: ser freelancer requer musculatura. O primeiro mito que caiu pra mim foi o de que malhar à tarde é um luxo e que a academia fica vazia. Mentira. Às três da tarde, a Smart Fit está a mil. Entre a pequena multidão que quer pagar pouco pra malhar apenas o suficiente, muitos estão nessa zona de relação indefinida com o trabalho e não só querem como precisam se exercitar. (Isso é uma primeira dica valiosa, evitar que sua cabeça se exercite muito mais do que você.)
Pensar em liberdade em alta dosagem pode fazer o coração bater mais forte, mas se prepare pra ter palpitações ao ver o eletrocardiograma que é sua conta bancária. E não espere muito tempo para recuperar o fôlego. Você precisa correr atrás do seu. Constantemente. Às vezes você fecha um negociozinho bom, estoura champanhe e vê tudo fazendo sentido, mas dois meses depois lá está você de novo na zona indefinida da academia inteligente onde até o supino parece mais smart e bem-sucedido que você. Por algum tempo você e sua musculatura vão viver nessa montanha-russa. E a notícia triste é que sua chance de ir à Disney talvez diminua (essa é outra dica valiosa: não se deixe levar pelas emoções e tenha sempre uma planilha no excel hierarquizando seus sonhos juvenis).
Você precisa administrar o perfil do seu personagem nesse parque temático chamado mercado, onde você tem que ser marqueteiro de si mesmo até quando sua mercadoria está em falta
Outro exercício difícil da vida de freelancer é que além de precisar de dedicação em dobro à maldita planilha, você precisa administrar o perfil do seu personagem nesse parque temático chamado mercado, onde você tem que ser marqueteiro de si mesmo até quando sua mercadoria está em falta. Estar sempre conectado, se adaptar, se engajar, se reinventar, não se deixar abalar pelas quedas vertiginosas (porque elas fazem parte do jogo) e, claro, não deixar de malhar o tríceps – até porque seu plano é trimensal e, sim, às vezes até o plano curto da academia é mais longo que seu projeto atual. Mas mantenha a postura. (Essa é outra dica valiosa: você pode gastar horas se aprofundando no Instagram de desconhecidos ou pesquisando preço de viagens que não vai fazer, mas tenha sempre um projeto. Tenha um projeto pessoal nem que seja transformar sua crise pessoal num projeto – um filme, um foodtruck, um startup, qualquer coisa. Tenha um projeto e saiba defendê-lo em encontros fortuitos, ainda que dividindo o cadeira adutora com um semi-conhecido.)
Se parecer muita coisa, talvez uma dica seja parar, respirar e lembrar do ditado mais antigo que o todo o império smart, “A grama do vizinho é sempre mais verde”, com o adicional de que ninguém precisa de vizinho quando tem Instagram, e que em 2018 quase ninguém tem grama (e essa talvez seja a dica mais preciosa: tenha verde próximo a você, de preferência na sua alimentação).
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