Ejacule já: testamos a massagem tântrica
Com um profissional que atende em casa, numa sessão de quase duas horas, trilhamos os caminhos dos orgasmos múltiplos
24.10.2017 | Por: Equipe Hysteria
Ilustração: Kiki T.
Quando ele chegou em casa, trazia uma mochila e dois braços enormes que envolveram meu corpo mirrado num abraço longo, com aquela leve pressão de abraço íntimo, de amigo. Alto, bonito, sentou-se no sofá, driblando um de meus gatos que logo se acomodou em seu colo. “O que você imagina que vai acontecer aqui hoje?”, perguntou. Eu, entre ansiosa e apavorada, disparei em ritmo de velocista olímpico: “Eu não sei tenho vergonha é bom que você saiba disso eu tenho vergonha vou ter que tirar a roupa né? mas olha eu não estou super confortável como é? você é quem precisa me dizer porque eu só sei o que ouvi dizer que vou conhecer melhor meu corpo aproveitar melhor minhas potencialidades mas não sei já é hora de tirar a roupa? me explica você porque eu.” “Calma.” Foi só o que ele disse antes de tocar meu braço e me pedir para respirar. “Um, dois, três, prende o ar, e solta len-ta-men-te. Um, dois, três…”
Então começou a explicar que sim, a massagem tântrica era um método de conhecer o próprio corpo e de explorar as possibilidades de prazer para além dos órgãos genitais. Falou em Reich, no potencial sensorial que me seria revelado — idealmente, num processo contínuo de aprendizagem. Leia-se: uma série de sessões de massagem tântrica. Seria bom, não fosse caro. Aquela sessão inaugural, feita em casa, no estilo delivery com hora marcada, me custou R$ 350. Não por acaso, enquanto ele explicava o método, eu pensava que tinha que fazer uma transferência para a veterinária, outra para a diarista e uma terceira para o terapeuta, e ainda precisava ir ao mercado. Não posso esquecer de comprar sabão em pó, não posso esquecer o sabão em pó, era só o que eu pensava, em loop.
Não sei em que ponto da fala ele se levantou, andou pela sala, entrou no meu quarto e definiu: “Vamos fazer aqui. Você teria algo para cobrirmos melhor a janela? Para ficar mais escuro o quarto?”. Saquei um cangão do armário, busquei grampos de roupa no varal e prendemos aquele pano de estampa hippie sobre minha inútil cortina branca de algodão. “Vamos precisar também de um lençol. Pode ser um velho. Para cobrir a cama.” Ergui as sobrancelhas: Por quê? “Porque costuma acontecer de a mulher ejacular e molhar a roupa de cama.” Ah, sim, claro, como eu não pensei nisso. Cliente aplicada, fui buscar um lençol e de pronto cobri toda a cama. Quando vi, ele já estava trocando a lâmpada amarela de minha luminária por uma azul que sacou da misteriosa mochila. Depois, acomodou o celular no aparador perto da cama e deu play numa música indiana genérica, do tipo trilha para aula de ioga. E eu em pé, na porta do quarto, dura, à espera do próximo comando. “Agora você tira a roupa e deita. Eu vou me trocar e volto em seguida.” “Toda a roupa?” “Isso. Toda.” Sem titubear — porque, nessas horas, um pensamento e, pronto, você desiste —, tirei tudo e deitei. Ele voltou de regata e cueca boxer preta. Era mesmo alto e bonito, eu pensei, antes de voltar a fazer a lista do supermercado.
Começou com os dedos. Nas pernas, nas coxas, opa!, quase a virilha, mas não. Subiu para abdômen, cintura, opa!, quase o peito, mas não. Então braços, ombros, virou meu corpo de lado, quadril, opa!, quase bunda, mas não. Foi para as costas, o pescoço, ombros de novo. Uma hora assim: cítara no som, as duas mãos dele, os dez dedos dele caminhando pelo corpo. Vez por outra, eu voltava à lista do mercado, mas menos. Convenhamos: 60 minutos de um homem passando os dedos pelo seu corpo e dane-se o sabão em pó. Na meia hora final, eu de frente, de olhos fechados, ouvi um ruído de plástico. Não dei conta e assumo: abri só um pouquinho o olho direito para espiar. Eram luva e camisinha — a primeira, nas mãos dele; a segunda, num vibrador.
Cítaras tocavam, os dedos dele no clitóris, pressionando, passeando por ali, o vibrador no ritmo dos vibradores. E foi então que eu entendi o lençol para cobrir a cama: saíam rios de mim. Uma, duas, três vezes. Quando acabou (acabei), ele, o massagista, não o vibrador, saiu de cena e, antes de se sentar no chão, botou para tocar Tudo o que Você Podia Ser. Nunca pensei que fosse sentir saudade da cítara. Milton Nascimento, naquela hora, três ejaculações depois, me despertou uma crise de riso, que segurei ao ponto de lágrimas despontarem dos meus olhos. Ele, o massagista, não o Milton Nascimento, subiu na cama e me abraçou por trás. Falou que meu chakra sexual tinha muito potencial a ser desenvolvido, que o tônus na região era surpreendente, perguntou se eu praticava o pompoarismo (!) e pouco depois partiu. Eu, então, já tinha esquecido a lista do mercado.
4 Comentários
4 respostas para “Ejacule já: testamos a massagem tântrica”
eu quero o contato
Muito bom.
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Qual a necessidade dele ficar de cueca nessa dinâmica?