Fast date nas nuvens: testamos o aplicativo de date pra quem não gosta de aplicativo

Testamos o Love Is In The Cloud, experimento virtual pra amar e ser amado por cinco anos, cinco meses ou, por que não, cinco minutos

12.06.2020  |  Por: Natália Albertoni

image
Fast date nas nuvens: testamos o aplicativo de date pra quem não gosta de aplicativo

O amor chegou à nuvem. Aquela que armazena arquivos e executa tarefas pela internet de qualquer lugar. Mais especificamente ao Zoom. Eu conferi. Lá tem sala de espera com papel de parede numa vibe meio Disk MTV. Tem também set de VJ, que inclui hits românticos que você não sabe se gosta ou tem vergonha. E um mural no qual você pode se comunicar por mensagem de texto com qualquer um dos convidados – que, neste caso, são sempre migos de migos.

Eu sou miga da Isabella Nardini, idealizadora desse endereço virtual que se chama Love Is In The Cloud. E, por isso, dei um giro lá. Como designer de experiências, a Isa passa a vida criando atividades para destravar o potencial humano e encontrar soluções inusitadas para quase todo tipo de trabalho. Só que neste momento tão difícil e complexo, ela tava com vontade de acessar outros sentimentos, como o frio na barriga que a gente sente quando conhece alguém interessante. Lembra? 

Mas como fazer isso com todo mundo dentro de casa? Ela não queria entrar num app de paquera. Benditos sejam para quem curte, mas a aleatoriedade prometida não era bem o que ela procurava. O céu se abriu quando a Isa estava num workshop virtual e notificaram que os participantes seriam divididos em salinhas privadas para fazer um exercício. O elevador no estômago subiu. “Quem seria a minha dupla?”, pensou. Foi aí que entendeu como materializar seu desejo: “Vou fazer um online speed dating com amigos e amigos de amigos meus.” E, assim, com a brisa na cabeça e o sonho de ser a Fernanda Lima do “Fica Comigo” nos anos 2.000, a Isa se tornou meio que uma cupida do século 21. 

Eu não estou nem perto da lista de entusiastas de qualquer aplicativo desse tipo. Na verdade nunca testei um. Há alguns anos, sem querer, dei um super like na conta da minha amiga que deixou eu ver como o Tinder (?) funcionava por alguns minutos – sem prever o estrago. Some a isso o fato de uma das minhas melhores amigas garantir que eu preciso de atestado em cartório para aceitar que alguém tá me dando mole. E, aí, adicione o lembrete que speed dating é aquele tipo de encontro entre muitos solteiros com o objetivo de conhecer um grande número de parceiros disponíveis num curto período de tempo. A promessa de “desencalhar” o mais rápido possível virou até marca registrada. Essa pressa só podia ser coisa de americano. Tempo é dinheiro, né, bem?  

Mas, então, mesmo sabendo disso tudo, a Isa me convidou pra participar da experiência e disse pra eu ficar tranquila.

“Mas eu posso participar só pra conhecer as pessoas?”, eu perguntei. 

Ao que ela respondeu: “pode, vem na minha.” 

Quase nada de bom acontece depois que alguém fala “vem na minha”. Mas eu já fui em festa na casa da Isa. Bons tempos. Os amigos dela costumam ser legais. Além disso, uma leve e espontânea pressão por conteúdo pra Hysteria para a semana dos namorados pareceu a desculpa perfeita pra encarar o teste. Qual era a pior coisa que poderia acontecer? Eu estaria na minha casa. Não ia pegar trânsito. E, se odiasse tudo, poderia desligar o computador.  

Perto do horário do date coletivo eu fui me arrumar. Coloquei uma legging de oncinha e uma camisetona que eu amo e tá até furada de tanto usar. Minha sobrinha, que estava passando uns dias na minha casa, disse que era um look mais propício pra um segundo date. Eu ri, mas de nervoso. Experimentei outra combinação. Aí, ela disse que eu fiquei com cara de vó. Voltei pra primeira opção, pelo menos eu estaria confortável. A minha sobrinha também ajudou a escolher um bom lugar na sala pra conversar. A gente aproveitou as luzes de led coloridas pra criar um climinha. E só depois dessa escolha ela fez minha maquiagem. É que o batom vermelho numa luz azul, por exemplo, poderia ficar roxo ou preto, ela me contou (!). 

O segundo passo, seguindo a orientação para o experimento, era separar um objeto que dissesse muito sobre mim. Escolhi uma edição especial do livro Cidades Invisíveis, do Italo Calvino, que tem ilustrações maravilhosas e é meio interativo. O terceiro, opcional, claro, sugeria a preparação de um drinque. Como já disse a Cecilia Cussioli em outro texto por aqui, é realmente gostosa essa sensação de normalidade, nem que ela dure uma hora e meia. 

Com o computador a postos (e carregado), chegou por WhatsApp o link do Zoom com ID e senha. Conforme adentrava o admirável mundo novo da Isa, com os outros aventureiros, mais instruções: deixar câmeras e microfone desligados até sermos teletransportados para salas individuais oito vezes, para oito encontros de cinco minutos. Fiquei animadíssima. Sempre quis usar uma máquina de teletransporte. Sempre achei também que viajaria no tempo, mas foi para a casa dos outros mesmo. 

A cada abrir de porta (entenda aqui uns segundos em frente a um box cinza indicado por sala número 3), uma pessoa nova. Agora, com microfone e câmera ativados, a sugestão era olhar nos olhos do date por uns instantes, no maior estilo Marina Abramovic. E aguardar surgir no topo da tela uma pergunta aleatória pra estimular a conversa. Não é que era proibido falar sobre trabalho ou onde você mora. É só muito entediante mesmo. Então, por que não falar do objeto que você elegeu pra te representar naquela noite? Ou, só julgando pela capa, e ainda entremeada por uma tela, o que você poderia dizer de quem estava olhando nos olhos? E o que você sempre quis perguntar às pessoas e nunca teve coragem?  

Eu me senti numa festa na casa da Isa que rolou há alguns anos depois de um festival. A festa acontecia entre dois apês no mesmo andar. Um com luzes vermelhas e outro com luzes azuis. Cada qual com um estilo, que naturalmente atraía um tipo de pessoa e de música. Senti que a cada teletransporte digital eu ia pra um cômodo de uma casa imaginária e começava um papo de elevador, de fila pro banheiro, de varanda entre cigarros, ou de cozinha na busca por uma breja. Eram encontros breves, divertidos, às vezes peculiares, sempre interessantes. 

Estranhei a pessoa que explicou calorosamente por que uma garrafa de água saborizada dizia tanto sobre ela. Eu achei aquilo muito estranho. Não sei até agora se entendi. Mas algumas pessoas só querem ser ouvidas. Então, ouvi. Depois, me acalmei com outra que falava tão pausadamente que me deu vontade de deitar, fechar os olhos e obedecer qualquer coisa que dizia aquela voz de meditação guiada. Teve também uma apressada que burlou as regras. Não quis aguardar pela pergunta porque o tempo era curto e desandou a falar. Ri muito. Nos intervalos entre as breves conversas, voltávamos pra sala de espera, ouvíamos Beatles e John Paul Young. E ainda dava tempo pra trocar uma ideia no chat aberto. 

Eu amei todo mundo, mas não me apaixonei por ninguém. Talvez eu não estivesse pronta ou no grupo certo. Esse era o hétero. Tem também o gay, o lésbico e o dos curiosos. Quis ser amiga de todos. Foi tão gostoso que bateu aquela vontade de encontrar todo mundo pra continuar a conversa por horas. Isa, sempre com todas as cartas na manga, nos convidou pra estender o encontro numa festa – online, óbvio. Chamei minha sobrinha, que estava escondida num dos quartos. Tiramos as perucas de carnaval do armário e dançamos até a bateria acabar. Do computador, no caso. Aí aceitamos que a nossa também tava no fim e fomos dormir. 

Experimentaria tudo de novo outras vezes. Porque é uma delícia conhecer gente e falar com genuíno interesse com alguém que não seja seu chefe, algum familiar ou qualquer outra pessoa meio obrigada a trocar com você no dia a dia. Seja pra buscar um novo par, testar o nível do flerte ou só fazer amigos… se eu fosse você experimentava. Pra participar, como avisei lá em cima, tem que ser amigo de algum amigo da idealizadora da brincadeira ou de alguém que já participou da experiência. Exatamente pra garantir que o ambiente emane essa good vibe. Boto fé que uma hora a corrente chega até você. E, olha, nesta sexta (12), que coincide com o famigerado Dia dos Namorados, vai rolar Love is in the cloud – A Festa. Eu posso chamar alguns amigxs pra colar, dançar e quem sabe ser teletransportadx. Me liga ou fica de olho no @loveisinthecloud pra mais informações, porque a Isa vai abrir um cadastro para interessados em breve. E vamos se amar que tá foda. 

 

Natalia Albertoni é jornalista, meio camaleão. Cria, desenvolve e executa estratégias de relacionamento com a imprensa e de PR pra marcas, produtos e serviços

0 Comentários

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *