Agora É Que São Elas: do online para o offline

Festival feminista que acontece domingo em São Paulo terá debates, mostra de filmes, exposição, poesia e música

10.08.2018  |  Por: Maria Clara Drummond

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Agora É Que São Elas: do online para o offline

É comum escutar esse tipo de crítica: “Fulana é ativista de sofá!”, para se referir a quem é cheio de ideologia no #textão de Facebook, mas não frequenta coletivos, não participa de protestos, não mobiliza ações comunitárias ou colabora com ONGs – nas palavras da canção de rock, “making a revolution from the bed“.  Depois da ocupação #AgoraÉQueSãoElas, realizada por Antonia Pellegrino, Alessandra Orofino, Manoela Miklos e Ana Carolina Evangelista em novembro de 2015, quando mulheres ocuparam os espaços de fala dos homens na mídia, e da subsequente criação do  blog de mesmo nome na Folha de São Paulo, agora é o momento de fazer acontecer ao vivo e em cores, dia 12 de agosto, no Unibes Cultural, em São Paulo.

O tema escolhido para a primeira edição do Festival Agora É Que São Elas foi Poder. “No ativismo feminista, eu entendi muito rápido que ou a gente conquista o poder de fato,  com autonomia de decisões, ou vamos secar gelo a vida inteira”, conta Antonia Pellegrino, curadora do festival. “São muito importantes todas as reflexões sobre comportamento e disputas simbólicas. Mas elas têm um certo limite. Para fazer avanços reais, precisamos do poder em todas as instâncias, seja na política ou nas empresas.”

A atração principal será a masterclass da inglesa Mary Beard, que utiliza seu vasto conhecimento do mundo antigo para contextualizar o silenciamento feminino, e teve seu livro Mulheres e Poder: Um Manifesto recém-lançado no Brasil. Mary Beard também foi considerada pelo jornal The Guardian “a mais amada intelectual britânica”. Entre os destaques também estão a filósofa Djamila Ribeiro, a escritora Heloísa Buarque de Holanda e a ativista e criadora da ONG Redes da Maré, Eliana Souza e Silva.

Mary Beard

Hysteria estará presente, claro, com uma curadoria de curtas dirigidos por mulheres de diversos estados brasileiros. Serão três sessões, batizadas de Nossas Lutas, Nossas Mães e Avós e Nosso Olhares. Após cada uma acontecerá um bate-papo com as diretoras – Carol Rodrigues, Marina Quintanilha, Julia Bock, Maria Leite e Eliza Campai são presenças confirmadas. Ainda no cinema, será exibido o filme Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida, que também falará no evento.

“O festival ocorre às vésperas das eleições. Por isso o tema é importantíssimo. O ponto de partida da marcha das mulheres rumo ao poder foi em 2016, quando já tivemos algumas candidaturas, sendo a mais expressiva dessas a de Marielle Franco. Sua trajetória de vida e morte atiçou as mulheres a entrarem nesse espaço ainda mais”, continua Antonia.

As mesas que debatem o cenário nacional são: “Patriarcado à brasileira – Como se formou a estrutura patriarcal no Brasil”; “Lugar de mulher é na política – O grande desafio dos feminismos no século XXI: a disputa de poder”; “Rompendo o teto de cristal: janela de oportunidade ou meritocracia?” e “A margem no centro: lutas identitárias são lutas humanitárias – Como alargar nosso sentido de humanidade?”.

Depois da teoria, a prática: haverá oficinas ministradas por duas organizações que têm como o objetivo principal o empoderamento feminino. A Agiliza Lab, de Mariana Pavan, prepara mulheres para realizar funções que até hoje foram dos homens, como as de eletricista, marceneiro, encanador etc. Já a Girl Up, representada por Letícia Bahia, é um movimento global da Fundação das Nações Unidas que engaja meninas para que liderem a luta pela igualdade de gênero.

E, provando que a desconstrução dos corpos também não pode ficar só no discurso, o festival vai contar com uma feira de roupa plus size chamada Popload Lab – uma versão compacta da feira de moda e cultura plus size PopPlus, que acontece quatro vezes ao ano em São Paulo desde 2012. Entre as marcas participantes, chamam a atenção o universo cheio de cor da Alice Surtô, a moda sustentável que utiliza técnicas de zero waste e upcycling da Aline Vito e as peças para pessoas com deficiência física Livanz.

“Acredito que um festival deve atuar em diferentes áreas. Hoje, o plus size é um movimento político forte que busca contrapor o fato de as grandes marcas serem voltadas para mulheres magras”, conta a produtora do evento, Joana Braga. Além da curadoria de marcas feita especialmente para o festival, Flávia Durante, criadora da PopPlus, também falará sobre sua experiência no palco Lugar de Fala.

 

Preta Rara

Luisa Duarte e Pollyana Quintella são as curadoras de uma exposição/ocupação com a presença de seis artistas brasileiras que têm o feminismo como temática: Anitta Boa Vida, Caroline Valansi, Cibelle Cavalli Bastos, Luisa Brandelli, Marcela Cantuária e Virginia de Medeiros. Pollyana Quintella também é a curadora responsável pelas dez poetas escolhidas para participar do projeto, como Alice Sant’anna, Julia de Souza,  Bruna Beber e Júlia de Carvalho Hansen, entre outras. Já as atrações musicais serão de Preta Rara e Bia Ferreria.

Bia Ferreria

O ingresso para as mesas de debates e a masterclass prescinde de pré-inscrição no site do evento – onde também se encontra a programação completa. Embora já estejam estejam esgotados, novos lugares serão disponibilizados para o público, em ordem de chegada.

 

#FestivalAgoraÉQueSãoElas: Unibes Cultural – Rua Oscar Freire, 2.500. Domingo, 12 de agosto de 2018, das 10h às 20h. Entrada franca

 

 

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