Grande, forte e orgulhosamente gorda

Conheça mulheres que encabeçam um movimento para mostrar que 'ser' acima do peso é natural, bonito e além de tudo revolucionário

20.02.2018  |  Por: Jéssica Quadros

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Grande, forte e orgulhosamente gorda

Caio Cal / Débora Nis

Um corpo perfeito é aquele que abriga uma mulher feliz dentro. Essa frase parece óbvia em 2018 mas foi o desafio de muitas mulheres durante anos de pressão estética para manter o manequim abaixo dos 40, as pernas sem celulite, as estrias escondidas e a barriga sem dobras. Se foi difícil para meninas e mulheres com corpos padronizados crescerem em uma sociedade na qual engordar era um crime contra a estética, para as gordas foi – e ainda está sendo – um processo demorado e dolorido. A diferença é que agora a palavra “gorda” não está mais impregnada de uma conotação negativa, já que o empoderamento feminino trouxe com ele um movimento de amor pela própria identidade. O verbo “estar” foi substituído pelo verbo “ser”. Ser gorda é natural, bonito e além de tudo revolucionário.

Para a youtuber e jornalista Alexandra Gurgel, do canal Alexandrismos, seu processo de aceitação começou com a decisão de ter um espaço no qual pudesse falar abertamente sobre o assunto: “Eu sempre fui alvo do julgamento das pessoas ao meu redor, até mesmo da minha família. Sempre fui gorda, e no grupo de amigos, a única gorda. Isso me fazia mal e eu acabava sentindo que havia algo de errado comigo. Foi só há dois anos, com o início do canal e começando a falar sobre feminismo, amor-próprio e gordofobia, criando a minha rede de suporte com pessoas que passaram pelo mesmo processo que eu, que eu me fortaleci como mulher, aprendi a me amar e a amar meu próprio corpo.” Para Alexandra, a construção do amor-próprio é uma jornada contínua: “Não existe um momento, um clique, em que paramos e falamos: completei todas as etapas, estou graduada em me amar! Estou sempre aprendendo a me amar, a cada dia que passa.” 

Em outubro do ano passado, a influenciadora Luiza Junqueira, do canal Tá Querida, aproveitou também seu espaço no YouTube para dar voz a um movimento pela normalização dos diferentes tipos de corpos, criando a tag Tour Pelo Meu Corpo. Ela gravou e publicou um vídeo de autoanálise do seu biotipo e o movimento foi aderido por grande parte dos creators, que tiraram as roupas em seus canais para expor suas inseguranças e mostrar para o público a naturalidade de não se encaixar em um modelo de perfeição.

Ainda assim, dentro da militância e nas redes sociais, falar sobre o corpo gordo ainda gera discurso de ódio e preconceito. A preocupação com a saúde aparece nos argumentos mais utilizados nos debates, descartando o fato de que cada biotipo responde de forma diferenciada à alimentação. O sedentarismo, verdadeiro vilão da vida saudável, não é mencionado tanto quanto o conceito de obesidade, que simplesmente assume como doença o fato de uma pessoa estar acima de um peso padronizado por um cálculo matemático. Somado a isso, o preceito de que as mulheres precisam se adequar a um modelo perfeccionista de tamanho de roupas para serem consideradas belas ainda não foi completamente quebrado. 

Para a modelo Isabella Trad, de 23 anos, a palavra gorda não é apenas sinônimo de empoderamento. Ela significa a representação da resistência. “É resistir ao que a palavra oferece para outras pessoas. É você ser chamada de gorda mas não levar isso para um lado ruim.” O processo de ressignificar o adjetivo, segundo ela, é deixar claro que não existe nenhuma carga de ofensa na palavra. O mercado plus size, por sua vez, surge com pequenas lojas que realmente se interessam em produzir roupas para o corpo das mulheres fora do padrão ao mesmo tempo que ainda há no mercado convencional uma segmentação de coleções que precisam ser especiais para o corpo gordo. “Parece difícil, parece que a loja precisa criar uma nova coleção para a mulher gorda. Não precisa ser assim. Às vezes a mulher gorda só quer vestir também o que a mulher magra está vestindo. Nós não somos especiais. Nós somos só pessoas normais querendo vestir uma roupa.”

Nesta caminhada de desmistificação do sobrepeso, a luta diária começa ao entender os medos, as dificuldades, os olhares, e principalmente o próprio julgamento. O feminismo ainda é o movimento que mais fornece suporte ao discurso de aceitação pessoal e social do corpo feminino da forma como ele quiser ser, abraçando e fornecendo as armas necessárias para que todas não se sintam lutando sozinhas. A mulher pode ser do tamanho que quiser. Neste caso, grande, forte e orgulhosamente gorda.

1 Comentários

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Uma resposta para “Grande, forte e orgulhosamente gorda”

  1. HENRIQUE disse:

    É linda demais! Só não vê quem não quer! Beijo grande, minha linda.

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