Listas | Cinco artistas brasileiras radicais, por Marta Mestre

A curadora portuguesa, que já atuou no MAM do Rio e em Inhotim, elege as ‘radical Brazilian women’, em referência ao título da mostra em cartaz no Hammer Museum, em Los Angeles, onde estão obras criadas entre 1960 e 1985 por ousadas latino-americanas

13.12.2017  |  Por: Marta Mestre

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Listas | Cinco artistas brasileiras radicais, por Marta Mestre

1. Thereza Simões

A obra de Thereza Simões, artista nascida em 1941, ainda está por se “descobrir”, em especial o corpo de trabalhos figurativos realizadas em meio à ditadura militar. Estes expressam de forma bastante clara o quanto a guerra ou os conflitos militares são inseparáveis das imagens, da fotografia, do cinema ou da televisão. Para além de pintura, ela também fez escultura, néons e intervenções públicas, e participou de algumas das mais importantes exposições da sua época, como Opinião 66, Nova Objetividade Brasileira, De Corpo a Terra, Agnus Dei ou a 2ª Bienal Nacional de Artes da Bahia. Ainda assim, seu trabalho é testemunho do apagamento sistemático de nomes importantes das artes visuais brasileiras.

A artista, em montagem na Petite Galerie, no Rio, em 1970 (Foto: Acervo familiar)


2. Maria Auxiliadora da Silva (1935-1974)

As cores alegres e o tom popular das telas de Maria Auxiliadora da Silva (1935-1974) encobrem símbolos de resistência pessoal e coletiva de uma mulher, negra, pobre, semianalfabeta, no Brasil dos anos 1960 e 1970. Algumas das imagens podem ser consideradas apenas “naif” se não entendemos seu assunto, porque nos parece difícil conciliar o tema político, sexual, racial, com o cuidado e a alegria no uso de materiais. Os ambientes de festa, a socialização entre homens e mulheres, o romance ou os ambientes afro-regiliosos transmitem-nos a mudança social de São Paulo e do Brasil a partir do seu “diário pessoal” pintado. Em alguns dos seus quadros a artista usa relevos, que enfatizam os corpos erotizados e o sexo, e aplica o seu próprio cabelo para representar a identidade negra de vários dos seus personagens.

A pintura ‘Baile’ (1970), de Maria Auxiliadora da Silva (Foto: Rodrigo Casagrande)


3. Regina Vater

Uma das primeiras artistas brasileiras a trabalhar com vídeo, Regina Vater, nascida em 1943, tem suas obras expostas numa pequena retrospectiva no MAC de Niterói, até fevereiro de 2018 — oportunidade a não se perder para ver seus vídeos e ainda fotografias, poesias visuais ou instalações, como Tina America (na imagem abaixo). Definido pela artista como uma performance biográfica, é um bom exemplo do experimentalismo em voga na época, onde o rosto da artista carioca aparece transmutado em diversas personagens femininas ordinárias, da classe média dos anos 1970.

‘Tina América’, obra feita com imagens da artista, em 1976 (Foto: Galeria Jaqueline Martins)


4. Letícia Parente (1930-1991)

O vídeo Marca Registrada (1975), produzido no auge da ditadura brasileira por Letícia Parente, é hoje um emblema da videoarte no Brasil. Nas solas dos pés, a artista bordou as palavras “made in Brazil”, num gesto que denuncia o imperialismo econômico americano e desconstrói as tarefas associadas ao feminino — no caso, a costura. Sua obra é radical e instigante.

‘Marca Registrada’, obra de Letícia Parente (Foto: Galeria Jaqueline Martins)


5. Anna Bella Geiger

Na imagem abaixo, da série Brasil Nativo/ Brasil Alienígena, de 1977, Anna Bella Geiger, nascida em 1933, empunha um arco e uma flecha, imitando um índio brasileiro. Sua condição pessoal — mulher, artista, filha de imigrantes, nascida e vivendo em um país periférico — é abordada junto de imagens de povos “primitivos” para denunciar o conceito de “brasilidade”, tão caro aos militares no poder. Sua imagem fotográfica é deslocada, como algo exterior a si mesma, um “outro” que Geiger procura representar. A ironia está sempre latente em seu trabalho, em especial na forma como nos relembra dos estereótipos sociais e culturais que ainda persistem.

Detalhe de ‘Brasil nativo/ Brasil alienígena’ (1977), série de 18 postais (Foto: Galeria Mendes Wood DM)

 

 

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