A luta nossa de cada Dia Internacional da Mulher
Pesquisa Hysteria em parceria com o instituto Hibou mostra o que elas pensam sobre o 8 de Março e além
08.03.2018 | Por: Maria Clara Drummond
No dia 8 de março se comemora o Dia Internacional da Mulher. Hysteria, em parceria com o instituto de pesquisa Hibou, mapeou o que as mulheres brasileiras pensam não só sobre a data, mas também sobre o papel do feminino e o feminismo em geral. Durante a primeira semana de março, foram ouvidas mais de 1.264 mulheres de todo o Brasil e de todas as faixas etárias – a maioria (69%), porém, com menos de 40 anos. Encorajadas a apontar uma palavra que defina a data, a maioria deixou frases inteiras: “Um símbolo de resistência que foi transformado em souvenir”; “Um dia que felizmente existe, mas infelizmente é necessário”; “Dia de lembrar das que lutaram por nós para seguir lutando”; “Simplesmente um dia como outro qualquer”, escreveram, deixando claro que o 8M divide opiniões.
É visível o reconhecimento da luta – tanto que “luta” foi a palavra citada pelas mulheres que responderam ao questionário para definir a data. Mas elas também apontam o aspecto comercial que tirou o foco do dia – “comercial” é a segunda palavra que aparece na lista, principalmente entre as mais jovens. “Os valores associados ao Dia Internacional da Mulher perdem intensidade com o aumento da faixa etária. As mulheres com menos de 30 anos sonham com uma mudança efetiva e acreditam na luta porque veem a sociedade se movendo. A segunda faixa etária, 35 a 45 anos, já sentiu na pele o assédio e a desigualdade profissional, e é a que mais reclama que a data é apenas uma fachada, no estilo ‘hoje me respeita, mas amanhã faz uma cantada de mau gosto na rua’. Por fim, a mulher com mais de 45 anos entende que o movimento melhorou muito no discurso e ganhou representatividade, mas como cultura não viu grandes mudanças na prática, e é indiferente ao desconto na loja ou à flor no restaurante”, diz Ligia Mello, monitora da Hibou. “É bastante visível a mudança no discurso porém ninguém sente isso nas ações. É como se todo mundo soubesse o que é certo, mas isso não significa que façam o certo. Nem os homens, nem as mulheres.”
Você comemora o Dia Internacional da Mulher?
Você se considera uma pessoa feminista?
Já usaram a palavra “feminista” de forma pejorativa com você?
Já sofreu algum tipo de violência por ser mulher?
Já sentiu medo de algum namorado ou marido?
Entre os resultados da pesquisa, 66% consideram que o Dia Internacional da Mulher conta uma história importante, mas 55% não se sentem representadas pela data (com destaque para a faixa que entre 26 e 40 anos: apenas uma em cada três se enxerga no dia), 58% não a comemoram e 21% acreditam que ela reforça o estereótipo de fragilidade, embora 59% achem que ajuda a fortalecer a autoimagem feminina entre as mais jovens. Setenta e nove por cento das mulheres que responderam ao questionário se consideram feministas, 75% já ouviram a palavra “feminista” referida a elas de forma pejorativa e 69% já sofreram algum tipo de violência por ser mulher. Embora levemente em minoria, impressionantes 42% – ou seja, quase metade das brasileiras (a margem de erro da pesquisa é de 2,5%) – já sentiu medo de algum namorado ou marido. Para 70%, o Brasil é um país machista.
A mudança dos tempos também se reflete na pesquisa. Apenas 2% acham que a mulher só está completa quando tem filhos, e só para 12% a mulher deve incluir o sobrenome do marido ao casar. A perspectiva mostra que podemos ter esperança nas próximas gerações: 80% dizem que homens e mulheres foram criados de maneira diferente em sua família de origem, mas 92% criam ou criariam filhos de maneira igual independentemente de gênero.
Acha que uma mulher só está completa quando tem filhos?
A mulher deveria incluir o sobrenome do marido ao casar?
Homens e mulheres foram criados da mesma maneira em sua família?
Você cria ou criaria filhos homens e mulheres da mesma maneira?
O 8 de Março foi instituído oficialmente pela ONU em 1975, mas a ideia de uma data para lembrar a luta feminina começou no início do século, no contexto do movimento sufragista, por mulheres como a americana Theresa Malkiel, as alemãs Luise Zietz, Clara Zetkin e Käte Duncker, e a russa Alexandra Kollontai. Era um assunto muito falado entre as grevistas e as ativistas soviéticas e da Internacional Socialista. Por muitos anos, esse sentido original foi parcialmente diluído, adquirindo um caráter festivo e sendo amplamente apropriado pelo comércio, como presentear as mulheres com flores, mimos e descontos em produtos e serviços tipicamente “femininos”, mas com a nova onda do feminismo, as mulheres não estão se contentando mais com um presentinho e querem igualdade de direitos.
Assim caminha a humanidade: a passos lentos. Mas tudo indica que daqui a alguns anos vamos ter muito mais a comemorar no Dia Internacional da Mulher.
A seguir, algumas frases usadas pelas mulheres que participaram da pesquisa para definir a data:
Um símbolo de resistência que foi transformado em souvenir
Um dia que felizmente existe, mas infelizmente é necessário
Um dia para ganhar flores e o ano inteiro de discriminação
Dia de fazer MAIS barulho pelos nossos direitos
Era pra ser um dia de orgulho, mas virou um dia comercial
Data representativa de uma luta, mas que não contribui efetivamente com a luta
Dia de lembrar das que lutaram por nós para seguir lutando
É a valorização da mulher na sociedade do jeito que ELA QUISER, sendo no mercado de trabalho, dentro de casa ou nas ruas
Teatro: fingem se importar para abusar no resto do ano
Simplesmente um dia como outro qualquer
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