Manual de etiqueta do wi-fi público
Cafés vendem café. Se trabalhassem no ramo da internet os chamaríamos (saudosamente) de lan houses. Seja educado com estabelecimentos que estão lhe fazendo um favor
11.12.2017 | Por: Diana Assennato
Para aqueles que “fazem” home office, passar uma tarde trabalhando em um café pode ser uma fonte de inspiração, distração e até de vida social. Nos acostumamos com a ideia de que os cafés são extensões do nosso escritório. Coworkings informais em que podemos trabalhar focados, marcar reuniões e conhecer pessoas. E no fundo acreditamos que um bom wi-fi é obrigação de qualquer estabelecimento que se preze. Esperamos que a rede esteja disponível 24/7, que seja rápida, não falhe nunca e que aguente todos os dados da nossa demanda digital.
Confesso que a minha percepção mudou quando comecei a acompanhar de perto a saga dos donos da cafeteria que mais frequento em São Paulo. No bairro de Pinheiros, o KOF (King of the Fork) é praticamente minha segunda casa. Um dia fiz as contas: quantos cafés este lugar precisa vender por dia para se sustentar? Não fazia sentido deixar aquele bando de hipsters plugados horas a fio em seus computadores bloqueando a rotatividade de um espaço de 34 lugares.
No começo, os sócios Camila Romano e Paulo Filho criaram uma política de uso de laptops, restringindo a algumas mesas e balcões. “Os clientes não entenderam muito bem, achavam que podiam sentar onde quisessem com seus laptops e tablets só porque estavam consumindo. Sempre achamos que fazia parte ter um wifi bom, mas nunca foi nossa intenção criar um espaço de trabalho”, diz Paulo. Hoje o café não oferece mais wifi e sofre críticas por isso.
Se você acha que wi-fi deveria ser um direito inato, pense no impacto disso para pequenos negócios. Especialmente em cafeterias. O espaço que você + seu computador ocupam acaba sendo o de duas pessoas, que poderiam estar conversando, consumindo e principalmente: liberando a mesa em menos tempo. “Isso quando não sacam o tablet de design, o mouse e o teclado, como se estivessem na sala de casa”, conta Paulo. Além disso, existe a questão do flow de cada lugar: “Muitas vezes o café do meio da tarde é um momento de escape. A pessoa sai do escritório para ter um momento de respiro. Se do lado dela tem uma tela azul ou alguém em um call discutindo coisas de trabalho, quebra um pouco o clima do lugar.”
Paulo se lembra de uma cliente que, na hora do almoço, sacou uma marmita, pediu talheres e um guardanapo. Não saiu do computador. Outro caso é o de duas sócias que passaram o dia entrevistando 25 pessoas (que não consumiram nada) no pátio do café. Das 9h às 18h. “Já ouvi pessoas dizendo para outras ‘esse aqui é o meu QG’ , mas, poxa, o cara não sabia o meu nome nem eu o dele.” Paulo acredita que o bom cliente é aquele que vem para consumir o serviço que está sendo vendido no local, não importa qual seja.
Dez dicas de ouro do wi-fi público:
- Está na hora de criar o hábito: antes de sacar as telas, pergunte sempre qual é a política de uso do wi-fi do estabelecimento.
- Conecte apenas um aparelho por vez na rede do lugar.
- Faça bom uso do wi-fi alheio: não baixe filmes ou suba arquivos pesados.
- Seu computador e você devem ocupar o menor espaço que conseguirem.
- Não reclame do wi-fi para os baristas. Eles estão lá fazendo seu café, não são seu T.I.
- Colocar o fone de ouvido para fazer um call só faz com que o outro lado não seja ouvido. E normalmente, faz com que se fale mais alto. Fiquei atento ao seu volume.
- Mas em hipótese alguma ouça qualquer coisa sem fone de ouvido.
- Se você precisa de um dia inteiro, o melhor é fechar uma diária em um coworking. Caso precise mesmo passar o dia, não saia para almoçar em outro lugar se o estabelecimento oferecer comida.
- Não peça para alguém dar uma olhadinha no seu computador por mais de cinco ou 10 minutos. Seu equipamento é de sua responsabilidade.
- Nunca leve sua própria comida e lembre que consumir cerca de um produto por hora é uma boa medida. Caso contrário, deixe boas gorjeta.
Diana Assennato é criadora, ao lado das também jornalistas Emily Canto Nunes e Natasha Madov, do site de tecnologia, internet e cultura digital com olhar feminino Ada.vc. Ada Lovelace, que inspira o nome do site, é considerada a primeira programadora da história.
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