Massa funkeira engajada
A Frente Nacional de Mulheres no Funk chega para combater o machismo na comunidade e dizer que o discurso de 'hiperssexualização' entoado por parte das feministas não dialoga com mulheres periféricas: 'Queremos educar nossas garotas com um misto de consciência feminista e audácia', diz a diretora da organização
30.10.2017 | Por: Renata Prado
Foto: Tânia Carlos [flickr]
Habitamos um mundo onde os meios de comunicação conseguem manipular o comportamento de grupos sociais. Nesse contexto, nós, funkeiras, somos uma comunidade que é julgada moralmente a todo tempo. Apesar de a voz feminina exalar nas caixas de som dos bailes, muitas vezes ninguém ouve nosso clamor. A Frente Nacional de Mulheres no Funk surge exatamente com o objetivo de discutir e enfrentar todas as diferenças de gênero existentes no mundo, em especial, no mundo do funk.
A ideia de criar uma organização para mobilizar essas mulheres nasceu em uma roda de conversa com o tema Machismo no Rap, em Novembro de 2016, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Inspiradas na Frente Nacional de Mulheres do Hip Hop, foi pensada a possibilidade de uma frente no funk. Era isso!
A ideia é subverter? Sim. O funk é subversivo. Quando o Funk Ostentação surgiu em São Paulo, todos se surpreenderam ao ver jovens rotulados como “favelados” querendo ocupar espaços que não fossem designados para a massa funkeira. A juventude dos anos 2000 jogou na cara do sistema a vontade de ocupar palcos para além da periferia. Provamos para a economia do país que gostamos dos fluxos de rua mas também gostamos de rolezinho no shopping, comprovamos na prática a nossa vontade de querer consumir a cidade de forma digna.
E agora é a hora de pensarmos nessa ocupação com um recorte de gênero. É importante destacar que o funk é mal visto pela classe dominante simplesmente porque a massa funkeira fala da sexualidade de uma forma que não agrada a classe A – principalmente as mulheres. Por vezes, as mulheres do funk questionam o discurso de “hiperssexualização” colocado por um movimento feminista que não dialoga com mulheres periféricas. Grande parte das funkeiras defendem a liberdade corporal como sua aliada no dia a dia.
A FNMF vem para discutir e expor pontos como esse. Somos a primeira organização política e cultural composta exclusivamente por mulheres dentro do cenário do funk. E, claro, isso está gerando uma inquietação, pois a sociedade nunca imaginou que a massa feminina do funk fosse se organizar para reivindicar alguma coisa. Pois saibam que não somos apenas corpos que cantam e dançam.
Dançamos, sim, mas queremos que as pessoas conheçam a história do funk a partir do olhar feminino. Desde de 1970 as mulheres fazem e acontecem no cenário funk. A FNMF quer também que o mundo respeite a liberdade dos nossos corpos, nossas vestimentas e nosso jeito. Queremos educar nossas garotas com um misto de consciência feminista e audácia.
É por isso que puxei meu bonde para a pista. No time da FNMF tem: Rúbia Mara, que teve disposição e coragem de enfrentar o machismo no mundo do funk prestando assessoria para os Mcs; a jurista Juliana Martins, especializada em direitos humanos e juventudes; a respeitável produtora Leila Tupinambá, que fez parte da organização Eu Amo Baile Funk, e a sagaz Mc Carolzinha, para fortalecer a conexão Rio-SP.
Renata Prado é produtora executiva da festa BATEKOO SP e diretora da Frente Nacional de Mulheres no Funk. Pesquisadora na área da educação, ela briga para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Também é estudante de Pedagogia da Universidade Federal de São Paulo e apresentadora do Programa na web Funk TV Visita
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