Meio ambiente: as novas regras do jogo e o Brasil na contramão do mundo

Investidores ativistas e milionários preocupados com seus negócios daqui a cem anos colocam a preservação na pauta (queira nosso governo ou não)

22.07.2019  |  Por: Fê Cortez

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Meio ambiente: as novas regras do jogo e o Brasil na contramão do mundo

Foto: Gabriela Silveira | Piscina

Nada mais forte no modelo capitalista que o dinheiro do investidor. Durante muito tempo, os investimentos se baseavam no retorno em curto ou médio prazos, sem se preocupar com as consequências. E aparentemente o dia da virada chegou! É o momento em que investidores do mundo todo estão cobrando das empresas políticas claras no que tange à sustentabilidade social e ambiental.

Pode parecer utopia ou algo muito distante da realidade, mas a última edição da Harvard Business Review traz justamente um artigo baseado em uma pesquisa mostrando que isso já está acontecendo, e que muitos CEOs e diretores de grandes empresas ainda não se atentaram para o fato de que não só consumidores estão exigindo novas políticas e compromissos das empresas quanto à sustentabilidade, mas também os próprios acionistas. E isso muda tudo!

 Muda porque money talks, e, aparentemente, mesmo diante de uma possível e bem provável auto-destruição em massa da espécie humana, ela ainda caminha num mesmo e velho modelo de economia linear e expectativa de crescimento infinito num planeta com recursos finitos, que está gritando por socorro.

O que muda a partir de agora é que, para continuar recebendo investimentos, empresas precisam mostrar essas ações na prática, e apenas indicadores mensuráveis são levados em consideração, como por exemplo metas claras de redução da emissão de gases de efeito estufa.

Vivemos em um planeta globalizado e com investimentos para além de fronteiras

Curiosamente, quem puxa essa exigência são investidores ativistas, termo cunhado para essa nova categoria que está agindo com o poder da carteira pra mudar o jogo e dar um sacode nas regras que não mais condizem com o que o mundo precisa. Entre eles estão as famílias mais ricas do mundo e acionistas de fundos de pensão que esperam que seus fundos continuem dando retorno nos próximos 100 anos – e isso é impossível se práticas de sustentabilidade reais e efetivas não estiverem no core das tomadas de decisão empresariais. Eles afirmam que “empresas (de investimento) com trilhões sob sua gestão se tornaram grandes demais para deixar o planeta falhar”.

 A parte curiosa de tudo isso é que essa decisão nas empresas só vem depois que fundos anunciam seus novos interesses, o que deflagra uma crise ética na humanidade, em que ainda valia mais o resultado financeiro a curto prazo, do que a sobrevivência da nossa e de todas as outras trilhares de espécies que dividem a casa com a gente.

No Brasil ainda estamos na contramão dessa história e empresas multinacionais que já apresentam novas práticas em diversos países ainda não o fazem aqui, porque nossa legislação e nosso governo ainda não se atentaram para o fato de que o mundo mudou. Mas é questão de tempo, pois vivemos em um planeta globalizado e com investimentos para além de fronteiras. Só vai demorar mais, mas vai chegar a hora em que todos serão ativistas e os valores que nos norteiam serão aqueles da regeneração e da vida.

E em um país em que o governo é declaradamente contra políticas de preservação ambiental, que na sua visão retrógrada e míope atrapalha o desenvolvimento econômico, é um alívio ver que o cerco vai apertar, afinal, se o agro (responsável direto pelo plano de desmonte ambiental) não mudar, ele não vai ter mais pra quem vender. E money talks!

 

Fê Cortez é ativista ambiental e idealizadora da plataforma de educação Menos 1 Lixo. É defensora da ONU Meio Ambiente pela Campanha Mares Limpos e Conselheira do Greenpeace Brasil

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