Miudezas gigantes: as imagens de Tuane Eggers

Artista da delicadeza, a gaúcha é a primeira fotógrafa trazida pela diretora Mari Cobra nesta série sobre olhar, arte e registro

11.04.2019  |  Por: Mari Cobra

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Miudezas gigantes: as imagens de Tuane Eggers

Acompanho o trabalho da artista Tuane Eggers desde que atuou no filme Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho, em 2010. Depois disso ela se firmou como artista visual e hoje seu trabalho já rodou o mundo, foi exposto em países como Japão, Dinamarca e Rússia. Com leveza, suas fotos entrelaçam natureza e pessoas nos conduzindo para uma experiência sensorial e poética. Parte de sua produção pode ser vista no Instagram @tuane.eggers.

Tuane nasceu em 1989 em Lajeado, no Rio Grande do Sul. Seu trabalho é focado na fotografia analógica, geralmente com temáticas relacionadas aos fluxos da natureza e à impermanência da vida. Ela possui quatro publicações independentes, artesanais, todas de uma delicadeza única. A seguir, a conversa que tive com a artista sobre trabalho, processo criativo e inspirações.

 

O que te motivou a começar a fotografar?
A fotografia surgiu na minha vida de uma maneira muito espontânea, quando comecei a experimentar uma câmera digital muito simples do meu irmão. Eu tinha uns 15 anos. Fazia muitos autorretratos no quintal de casa – era o lugar e a pessoa com quem me sentia mais confortável. Eu postava minhas fotos em fotologs, e a partir disso surgiu a oportunidade de participar do filme Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho. Foi uma experiência muito especial, intensa e importantíssima para me fazer acreditar na fotografia como um caminho. Cursei jornalismo, mas sempre fui muito autodidata nesse processo. Como o meu campo sempre foi mais voltado às artes, agora estou cursando mestrado em artes visuais, na linha de poéticas visuais.

Como é seu processo criativo? O que te inspira?
Gosto muito de pensar em como a fotografia e o tempo são intrínsecos e paradoxalmente relacionados: a fotografia faz a captação de um fragmento de tempo muito pequeno, mas também, ao congelar aquela imagem, tem a capacidade de expandir esse instante a um tempo infinito. Isso me encanta e me faz pensar no que quero fazer permanecer. Quando observo meu próprio trabalho, penso que quero guardar os universos, cenas, situações ou expressões que me causaram algum encanto para que as imagens possam transportar os espectadores a lugares e sentimentos semelhantes aos que tive quando fotografei. Busco sempre delicadeza e beleza nas pequenas coisas.

Fala da dupla exposição, muito presente no seu trabalho.
Gosto de pensar que essa imagens sobrepostas formam uma única imagem que só acontece ali, naquela experimentação. Eu costumo fazer as múltiplas exposições na própria câmera, então é algo que imagino, mas que nunca sei exatamente como vai ficar. Gosto muito desse tom de surpresa que tem a fotografia analógica.    

O que é importante pra você na sua fotografia?
Os sentimentos que envolvem as imagens antes de tornarem-se fotografias. Penso que tudo transparece nas imagens e por isso, para mim, é necessário sinceridade com o encanto que motivou o clique (mesmo que se crie um novo mundo). Existe a ideia de que as imagens são um tempo estático, um instante pausado, mas há coisas que continuam pulsando no olhar. Quando olhamos fotografias, aqueles registros tornam-se lugares que habitamos, então o que pudermos oferecer de verdade dentro dessas pequenas ficções facilita uma correspondência do olhar.

 

Quais suas fotógrafas favoritas?
Gosto muito do trabalho da Rinko Kawauchi, da Alison Scarpulla e da Aëla Labbé. Mas algumas de minhas principais inspirações são pessoas que tornaram-se minhas amigas e que têm trabalhos muito especiais, como a Ieve Holthausen, a Chana de Moura, a Rochele Zandavalli e a Carine Wallauer.

O que te dá mais orgulho?
Quando alguém me escreve para falar sobre o quanto o meu olhar expandiu o seu.

Mari Cobra é diretora, roteirista e fotógrafa. Com um olhar característico para a potência feminina, seu trabalho retrata a beleza em sua essência. Além do documentário Nosso Sangue Nosso Corpo, é também autora do projeto Divinas, série de fotos analógicas dedicada a retratar a beleza de mulheres latino-americanas fora do padrão imposto pela sociedade

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