‘Nin’ | Verdades sobre o hímen (y otras cositas más)

Em trecho do livro 'A Revolução do Prazer – Como a Ciência Pode te Levar ao Orgasmo', a sexóloga americana Emily Nagoski derruba mitos e desmascara este bastião da virgindade feminina

09.10.2017  |  Por: Alice Galeffi

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‘Nin’ | Verdades sobre o hímen (y otras cositas más)

Foto: Fernanda Vallois

“Por muito tempo, a ciência e a medicina ocidental viram a sexualidade feminina como uma versão atenuada da masculina — basicamente a mesma coisa, só que não tão boa. Acreditava-se, por exemplo, que, já que os homens têm orgasmos durante o coito (sexo que constitui pênis na vagina), as mulheres também deveriam ter, e, caso isso não acontecesse, havia algo de errado com elas. Na realidade, cerca de 30% das mulheres conseguem ter orgasmos com o coito; os outros 70% às vezes, raramente ou nunca têm orgasmos dessa forma — e elas são todas saudáveis e normais. Uma mulher pode chegar ao orgasmo de muitas formas — sexo com as mãos, sexo oral, vibradores, estimulação dos seios, sucção dos dedos dos pés, basicamente qualquer coisa imaginável — e, ainda assim, não conseguir ter um orgasmo durante o coito. Isso é normal”, explica a sexóloga americana Emily Nagoski, autora do livro A Revolução do Prazer – Como a Ciência Pode Levar Você ao Orgasmo, com lançamento previsto para fevereiro de 2018, pela editora Guarda-Chuva.

Emily tem a missão de desvendar esses e outros mitos sobre a sexualidade feminina, e oferece respostas que corrigem equívocos e aliviam aflições e traumas. Por exemplo, o que você realmente sabe sobre o hímen? Toda mulher tem hímen? Por que ele existe? É sinônimo de virgindade?

Leia abaixo um trecho do livro contando a verdadeira história deste pequeno grande tabu:

“Você pode ter ou não um hímen — uma membrana fina na beirada inferior do orifício vaginal. Tendo ou não, eu posso garantir que praticamente tudo o que lhe ensinaram sobre o hímen está errado.

A coisa mais próxima da verdade é que, durante o coito, o hímen pode doer, caso não esteja acostumado a ser esticado — essa é uma das diversas causas possíveis para a dor durante a penetração, mas não é, de forma alguma, a mais comum. (A falta de lubrificação é a mais comum.) Mas o hímen não se rompe e fica para sempre rompido, como se fosse uma tampa de iogurte. Se um hímen é rompido ou ferido, ele se restaura. E o tamanho do hímen não está ligado ao fato de a vagina ter sido penetrada ou não. Ah, ele também não costuma sangrar. Qualquer sangramento durante uma primeira penetração provavelmente foi causado por um tipo de laceração vaginal por falta de lubrificação, e não por danos causados ao hímen.

O que muda quando uma mulher começa a ter seu hímen esticado com frequência é que ele se torna mais flexível. E conforme os hormônios da mulher mudam com a aproximação do fim da adolescência (por volta dos 25 anos), aumentam as chances de o hímen se atrofiar e se tornar menos perceptível — se é que ele já foi perceptível.

O hímen é um outro exemplo da enorme variabilidade dos genitais femininos. Algumas mulheres nascem sem hímen. Outras têm himens imperfurados (uma camada fina, mas compacta, que cobre todo o orifício vaginal) ou cribiforme (com muitos pequenos buracos em uma membrana compacta). Algumas mulheres têm himens septados, que são como um filamento de pele que se estica na entrada da vagina. Algumas mulheres têm hímens resistentes, outros são frágeis. Alguns desaparecem no início da adolescência e outros ainda são notáveis após a menopausa.

Os himens variam tanto pois, até onde a ciência conseguiu averiguar, o hímen não foi uma escolha evolutiva. Ele não tem função reprodutiva, ou qualquer outro tipo de papel. É um subproduto, um pequeno bônus deixado para trás pela pressão avassaladora da seleção natural, assim como os mamilos masculinos. Ele é homólogo ao colículo seminal, uma crista localizada na parede da uretra, onde ela passa através da próstata e se une aos dutos seminais.

O hímen é um grande exemplo de como os humanos metaforizam a anatomia. É um órgão sem qualquer função biológica e, mesmo assim, a cultura ocidental criou uma história poderosa sobre ele muito tempo atrás. Essa história não tem nada a ver com a biologia, mas com o controle sobre as mulheres. A cultura enxergava uma ‘barreira’ na entrada da vagina e decidiu que era um sinal de ‘virgindade’ (que é, em si, uma ideia sem qualquer sentido biológico). Uma ideia tão bizarra só poderia ter sido criada numa sociedade em que as mulheres eram, literalmente, uma propriedade, e suas vaginas eram o imóvel mais valorizado — um condomínio fechado.

Apesar de o hímen não ter qualquer função física ou biológica, muitas culturas criaram mitos tão profundos ao redor dele que existem até procedimentos cirúrgicos de ‘reconstrução’ do hímen, como se isso fosse uma necessidade médica. (Cadê a cirurgia para aperfeiçoar os mamilos dos homens?)

De certa forma, o hímen pode ser relevante para a saúde de uma mulher: algumas mulheres apanham ou até mesmo são mortas por não terem hímen. Algumas mulheres têm que ouvir que ‘não é possível que você tenha sido estuprada’, pois seu hímen está intacto. O hímen tem um impacto real no bem-estar dessas mulheres, mas não por motivos anatômicos, e sim pelo que a sua cultura dita sobre essa anatomia.” 

 

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