Pandemia da beleza natural

Enquanto o segmento de beleza espera uma retração de 2,5% este ano, ganha força a tendência de usar cada vez menos maquiagem

03.06.2020  |  Por: Fernanda D’Angelo

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Pandemia da beleza natural

Sempre curti um batom cheguei. Vermelho fechado, vermelho aberto, roxo, quanto mais pigmento, melhor. Tenho essa ideia de que é uma ferramenta que confere um poder a nós mulheres, dá uma sensação de “eu estou segura de mim”, sabe? Mas nesses tempos em casa ando passando um hidrante labial. O negócio tem sido lavar e hidratar bem o rosto, sem muita firula mesmo.

Recentemente, a revista Exame publicou a matéria “O fim do efeito batom?”, na qual mostra que o segmento de beleza deve ter uma retração de 2,5% este ano por conta da crise, segundo a consultoria de inteligência de mercado Kline. O grupo LVMH, maior conglomerado de artigos de luxo do mundo e que detém marcas como Sephora, destacou que a fatia de negócios que inclui a multimarca francesa caiu 26% no primeiro trimestre depois que lojas na China, na Europa e nos Estados Unidos foram fechadas. Com a pandemia causada pela Covid-19, aqui no Brasil o e-commerce da marca está oferecendo descontos.

O fato é que diminuir a dose na base, nas sombras, no rímel e afins já não é de hoje, e certamente esse comportamento acabou ganhando mais força com a pandemia. Desde 2017 vem acontecendo um movimento por parte de muitas mulheres mundo afora de optar por uma pele mais natural – assim como na moda surgiu a tendência de roupas mais confortáveis e largas. É um estilo de viver imperando por menos padrões e modismos e mais liberdade em assumir a identidade própria.

Relatório divulgado recentemente pela gigante francesa L’Oréal comprova a onda de cuidar mais da pele e usar menos maquiagem em tempos de crise. A companhia revelou que o setor de produtos voltados para os cuidados com a pele aumentou 13% no último trimestre.

Mas será que esse reconhecimento de que os produtos não são essenciais como imaginávamos vai continuar acontecendo ou chegará uma hora em que vamos voltar a nos produzir como uma forma de aliviar o estresse do isolamento? Por enquanto, se pintar como antes acabou se tornando um plus para aqueles dias em que você quer arrasar na live sem recorrer aos filtros e dar um “up” quando bate a deprê.

Apesar de as empresas e varejistas do segmento já estarem sentindo na pele, literalmente, o pouco caso por itens que já foram objetos de desejo e bombavam nas telas do YouTube em busca do rosto perfeito, existe uma teoria que defende o crescimento da venda de batom em crises como a que estamos passando, criada por nada menos que Leonard Lauder, presidente da Estée Lauder.

O furacão do mercado de beleza afirma que em tempos de incerteza financeira, em vez de dos consumidores (sobretudo as mulheres) comprarem um artigo de luxo de maior custo, como uma bolsa ou um sapato, acabam se voltando para produtos mais baratos, como os cosméticos e sobretudo o batom, que proporcionam bem-estar e a sensação de se estar mais atraente.

A partir dessa teoria, Lauder criou o lipstick index, indicador que por meio de estatísticas evidencia o aumento nas vendas de cosméticos (em especial o batom) em momentos de crises econômicas ou recessões. A expressão ganhou o ar da graça dias após o atentado de 11 de Setembro. Segundo a grife de beleza, as vendas do produto dispararam no período em que as pessoas sofriam os impactos do ataque terrorista.

Hoje, o nosso novo batom para ir às ruas ganhou versão em tecido colorido e estampado – sim, as máscaras. Já que não tem outro jeito, bora se jogar nas oncinhas, zigue-zague, poás, cores e afins, não é?  Os olhos ganham até um brilho a mais com esse novo acessório, o que motiva a investir em cores e delineados para as pálpebras.

A Zara britânica percebeu essa mudança das mulheres na forma de se olhar no espelho e quis mostrar, em época de pandemia, o poder da naturalidade em um ensaio pouco usual e com personalidade. Enviou as roupas da coleção nova para a casa de cada modelo e propôs que produzissem tanto seus próprios looks quanto suas fotos com o rosto bem fresh (veja a matéria da @marieclairemag aqui).

Até que me provem o contrário, a onda de um estilo de vida mais “à vontade” e natural veio pra ficar, e as marcas que cuidam da nossa “autoestima” parecem se atentar a esse novo normal. A grife de maquiagem Revlon, por exemplo, lançou a hashtag no Instagram #ButItHelps, com a missão de incentivar as mulheres a usarem sua base e seu batom prediletos mesmo enquanto assistem à Netflix.

Será que as peles “perfeitas”, que já vinham perdendo brilho nas redes sociais, estão com os dias contados?

 

Fernanda D’Angelo é jornalista que atuou por 12 anos com revistas impressas dentro dos segmentos de arquitetura, decoração, design e lifestyle, e hoje produz conteúdo digital. É criadora do blog www.madreafina.com (@madreafina), espaço para falar das dores e das alegrias da mulher (e da maternidade) de forma acolhedora

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