Por que é importante ter um festival audiovisual só de mulheres em 2020?

Conheça os 22 microfilmes selecionados para a mostra Imaginários Possíveis, uma parceria da Hysteria com o Cabíria Festival

30.10.2020  |  Por: Equipe Hysteria Cabíria Festival

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Por que é importante ter um festival audiovisual só de mulheres em 2020?
O ato de contar histórias acompanha a Humanidade desde os seus primórdios. Seja através da oralidade, passada de geração em geração, ou da linguagem escrita. E todo discurso ou narrativa parte de um lugar para defender uma ou mais ideias, conservar, ou subverter algo, visto que nada, por mais simples que pareça, está ausente de significado e carga simbólica. É mais ou menos aí que habita o entendimento de que tudo é político, pois na dimensão coletiva da sociedade todos os processos geram impactos nos sujeitos e grupos.
O audiovisual, por sua vez, é uma potente ferramenta de difusão de narrativas. Na na era digital sua presença é irreversível. Se por um lado há uma demanda real por conteúdos, intensificada no atual momento de pandemia, por outro há inúmeras pesquisas e diagnósticos que evidenciam uma preocupante lacuna na garantia da diversidade dessas produções. Para citar apenas uma, o Geena Davis Institute, em levantamento feito em 11 países (incluindo o Brasil), expôs que apesar de as mulheres serem quase metade da população mundial, apenas 23% dos filmes de maior bilheteria do mundo têm o seu protagonismo.
Reforçar pautas, manter debates acesos e promover ações que gerem mudanças e equilíbrio são objetivos do Cabíria Festival – Mulheres & Audiovisual, dedicado à produção realizada por mulheres e pessoas de identidades de gênero diversas em busca de representatividade e diversidade nas telas e atrás das câmeras. E também da Hysteria, uma plataforma de conteúdo produzido por mulheres que nasceu dentro de uma produtora de audiovisual, a Conspiração.
Se questionarmos que boa parte do aprendizado e dos traços comportamentais se dão por assimilação, o que se vê (ou não se vê) nas telas tem um grande impacto na visão de mundo da sociedade. Portanto, faz-se fundamental questionar esse desequilíbrio e trabalhar na direção de diversificar os modelos oferecidos à audiência. O mundo, as pessoas e as histórias são plurais e requerem pluriversalidade de pontos de vista e realização.
O Cabíria Festival busca ser uma plataforma de articulação para contribuir com o debate e ações de redução da crise de representatividade da sociedade, através do audiovisual. Quando mais pessoas têm acesso a diferentes narrativas e pontos de vista, amplia-se o olhar empático em relação ao outro, algo tão necessário quanto urgente neste 2020, um ano marcado por profundas crises política, ambiental e sanitária a nível global.
Em sua edição de 2020, que por conta da pandemia acontece online, entre 18 e 29 de novembro, o festival e a Hysteria criaram juntos a mostra Imaginários Possíveis, que exibirá microfilmes com duração mínima de 30 segundos e máxima de três minutos aqui no site e nas redes da Hysteria e do Cabíria. Realizadoras amadores e profissionais enviaram quase 200 filmes que foram submetidos às comissões julgadoras do festival e da Hysteria. Selecionamos 22 projetos, realizados em diversas regiões do Brasil, por diretoras de diferentes credos, raças e orientações sexuais.
A seguir, os 22 filmes selecionados para a mostra Imaginários Possíveis:
Como Criar no Meu Lugar, de Ana Angel (RJ): Documentário. O Cotidiano de uma estudante durante a quarentena.
Casa Verde, de Ana Clara Ribeiro (PI): Documentário. A volta para a cidade natal e suas diversas miradas. A casa dos nossos traumas e dos nossos afetos.
Carta para Dani, Uma Amiga que Foi, de Ana Luísa Moura (RS): Documentário. Daniela e Ana Luísa compartilham infâncias no início dos anos 2000. Agora, Ana vê cenas se repetindo na família enquanto pensa em sua amiga distante.
Altar, de Ana Nery Pimentel (SP): Ficção. Um corpo ancestral que entende as próprias extensões e se conecta com as ausências, uma busca autoconsciente se torna uma reverência histórica.
O Ser de LuAna, de Andréa Meireles (RN): Documentário. LuAna é uma artista visual que se dedica a pintar corpos nus como forma de expressão artística e empoderamento feminino, em Natal, RN. O Ser de LuAna explora o seu processo criativo, as relações que desenvolve com as mulheres que pinta e a motivação que a leva a persistir, no contexto conservador e machista do Nordeste brasileiro.
Lave o Maracujá, de Clara Soria (SP): Documentário. Durante o isolamento algumas reflexões surgiram, e também com ela a ansiedade. A necessidade de entender e buscar maneiras de amenizar os pensamentos ansiosos. Para alguns pode ser mais fácil lidar com ela, para outros, nem tanto. Vamos lavar o maracujá e se acalmar.
Um Mundo Onde Cabe Todo Mundo, de Coraci Ruiz (SP): Documentário. O passado é sempre uma invenção que moldamos no presente.
Sonhoverdade, de Daniela Belmiro (RJ):. Videopoema experimental. Quando se mora numa ilha urbana, o trajeto de chegada ou saída de casa oferece minutos de suspensão das demandas do mundo lá fora, deixando espaço para a mente devanear ao vento.
Casa, de Drica Czech (SP): Ficção. Dois casais de mulheres. Dois caminhos para uma relação. Em um mesmo espaço, elas revelam possibilidades distintas de se relacionar: a da repetição da lógica heteronormativa patriarcal, na qual a domesticação e crescente perda de individualidade se faz presente, e a da insubordinação do modelo de amor romântico e da construção de novos imaginários.
La Abuelita, de Gabriela Pingarilho (RJ): Experimental. Sobre o movimento de sublimação. Uma homenagem ao dia em que encontrei a morte pela primeira vez. Afinal, o que é a morte se não uma louvação à memória da vida?
Ensaio, de Grenda Costa e Carol Sousa (CE): Experimental. O relacionamento à distância entre duas mulheres na mesma cidade acontece nas fabulações, desejos e sonhos de aproximação.
(Re)trato, de Jéssica Barbosa (SP/PE): Filme-ensaio/experimental. Aos 30 anos, Jéssica descobre através de uma fotografia que sua avó paterna, Judite, morrera em um manicômio, afastada da família. Essa descoberta dá partida a uma busca que transforma sua visão de mundo. Fruto desta busca, (Re)trato é um videoarte que condensa documento fotográfico, metáfora visual, memória, confinamento e saúde mental.
Não-lugar, de Julia Leite (SP): Vídeo-carta/vídeo-poesia. Uma carta para minha namorada durante a pandemia.
Monitoradas, de Káliman Chiappini  (RJ): Docudrama. Já teve a sensação de estar sendo observado ? O microfilme Monitoradas conta a história de mulheres que, ao mesmo tempo em que pagam a sua dívida com o Estado, vivem em situação de monitoramento eletrônico.
Ideia Idiota, de Luiza Vienel (SC): Documentário. Arthur e Amendoim se sentam para um café.
Contato Contágio, de Marina Martins (RJ): Documentário experimental. Durante uma pandemia, o contato é sem tato porque com tato pode ser contágio.
Cuidado, de Maysa Reis (AL): Documentário. Cuidar é o ato de demonstrar preocupação ao zelar por algo ou alguém.
Os papéis se invertem e quem sempre cuidou agora precisa de cuidados.
Devir-Mulher, de Renata Chebel (MG): Ensaio audiovisual/videopoesia. Um ensaio audiovisual poético sobre o movimento constante de ser e tornar-se mulher.
Suellen e a Diáspora Periférica, de Renata Dorea (MG): Documentário. Filha da Diáspora Periférica, Renata Suellen nasceu no Formigueiro das Américas, apelido da cidade com maior adensamento populacional da América Latina, São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Suellen e a Diáspora Periférica é um exercício fílmico na tentativa de desapagar a memória de uma infância nas margens do Rio de Janeiro.
Depois que Acordo, de Tati Boudakian (SP): Ficção. Ao longo dos dias de solidão e enclausuramento, dois olhos iniciam um diálogo de associação e memória. Percebem aos poucos que, para além do ver e do relembrar, eles são capazes de criar novas imagens.
Escreva, de Tuanny Medeiros (RJ): Documentário. Um convite à escrita e ao ato de erguer a voz.
A Medida do Inevitável, de Tainá Xavier (DF): Ficção. A Medida do Inevitável diz respeito à impermanência natural da vida. Não somente na crise de saúde atual que vivenciamos com todas as suas dificuldades e aprendizados, mas também a fragilidade, efemeridade e beleza que estão intrínsecas ao próprio conceito de estar viva.

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