Por que me tornei uma militante dos apps de paquera

Desde a hora em que você dá like em alguém até o momento de um potencial beijo, a escolha é só sua. Isso pode ser difícil, mas também pode ser empoderador

21.02.2018  |  Por: Livia Saraiva

image
Por que me tornei uma militante dos apps de paquera

Minha relação com os aplicativos de encontros começou há quatro anos, durante uma viagem pra fora do país. Estar longe de casa era a situação ideal para me aventurar no mundo do flerte online: chance de novidade e certeza de impunidade. Tive dois encontros: o primeiro absolutamente falido e o segundo sucesso total, um match propriamente dito. Aproveitamento de 50%. Parecia promissor. Mas quando a viagem chegou ao fim, senti que nossa história tinha acabado. Não o romance express com o fotógrafo português, mas a minha história com o Tinder.

Não me parecia confortável esbarrar com semi-conhecidos, vizinhos e colegas de trabalho em pleno supermercado da paquera. O Tinder era uma aventura na qual pretendia me jogar só quando cruzasse a fronteira. Mas a vontade falou mais alto que o bloqueio e fui aproximando meu GPS. Voltei a usar o app durante um fim de semana em outra cidade e logo depois abri o Tinder no sofá da minha casa, numa noite em que a único match que se apresentava era com uma lasanha de abobrinha.

Lá estavam todos eles: conhecidos do bairro, amigos do trabalho, frequentadores da smartfit. Todo mundo estava ali. Não tinha nada de errado em estar ali. Além da possibilidade de conhecer gente totalmente nova, vi a chance de começar uma conversa com aquele conhecido com quem já tinha trocado muitos olhares, mas nunca tinha dado a sorte de esbarrar numa balada, talvez porque ele gostasse de balada, e isso é outra coisa boa dos aplicativos: conhecer gente menos igual a você. Entendi que essa ferramenta serviria não só pra conhecer (e reconhecer) pessoas, mas também para me conhecer melhor. Desde a hora em que você dá like em alguém até o momento de um potencial beijo, a escolha é só sua. Isso pode ser difícil, mas também pode ser empoderador.

Parece estranho rolar aquele cardápio de gente, mas quem já encarou balada meia-boca em noite de chuva visando quem-sabe-conhecer-alguém ou simplesmente dar uns beijos, sabe o valor de poder fazer isso sem precisar se molhar, né? E gastando apenas a bateria do celular. Um encontro com alguém que você nunca viu ao vivo ou que conhece pouco pode dar errado, mas também pode dar muito certo. Reconhecer quando não rolou e ser capaz de dizer “foi um prazer, vamos pedir a conta” pode ser libertador. Você sai de casa esperando dar uns beijos, mas tem que estar preparada pra ouvir e, principalmente, dizer um não.

Os apps, em algum sentido, funcionam como o ebay, ou qualquer outro site de compras. Você pode entrar só para pesquisar as ofertas, pode encher o carrinho sabendo que não vai comprar nada e pode devolver uma encomenda por não ser o que você imaginava. Como todo pedido feito pela internet, é direito do consumidor desistir da compra e como em todo e qualquer encontro, é seu direito absoluto mudar ideia. A maior diferença em relação ao ebay é que os produtos que você escolhe podem não te escolher de volta. Mas lidar com rejeição faz parte do jogo.

Aos poucos você vai sacando o que espera do aplicativo. Define pra você e de alguma forma, para os outros, o que está buscando ali: companhia para um drinque, sexo sem compromisso, um potencial relacionamento ou até um flerte que nunca se concretiza. É normal rolar conversa e não rolar encontro e também é normal rolar encontro e não rolar conversa. Exceto o respeito mútuo, não existem regras. Você traça a sua estratégia de comunicação e marketing. Isso pode ser bem divertido.

Me tornei defensora da causa dos apps de encontros vendo esse potencial libertador deles, especialmente para nós mulheres, e pensando na quantidade de gente que estava fora do mercado por não ter companhia ou oportunidade para flertar e que encontrou uma ferramenta para voltar à atividade. Gosto de saber que os aplicativos existem, mesmo que seja para escolher não usar. Ter um app de táxi no celular não significa que não estique o braço e chame um na rua quando tenho vontade. Esse foi o maior aprendizado que tive usando os aplicativos: reconhecer e respeitar minha própria vontade.

1 Comentários

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Uma resposta para “Por que me tornei uma militante dos apps de paquera”

  1. Camila Lyra disse:

    Já saí com 7 caras do tinder (que eu me lembre). Cada experiência foi única e pude conhecer meus limites, o que eu queria, o que não queria, se seria uma noite apenas bebendo cerveja ou se a noite se prolongaria,em tempos que conhecer alguém em balada, eu gosto da praticidade do Tinder.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *