Quem tem medo dos ‘coronaquilos’?

Preocupada em engordar durante a quarentena? Aproveite o momento pra redefinir prioridades e seja gentil, adverte psicóloga especializada em questões do corpo

20.04.2020  |  Por: Daphini Lima

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Quem tem medo dos ‘coronaquilos’?

A associação é quase imediata. Quarentena, confinamento, estresse emocional, frustração e tédio só podem significar uma coisa: aumento de peso. É quase um senso comum, um dado incontestável, que se manifesta socialmente de forma cômica, palatável. Mas será que devemos aceitar isso?

Isolamento, medo e engordar são indissociáveis? O que está pressuposto e oculto nessa associação? E o que podemos elaborar para lidar com ela? Nos Estados Unidos inventaram o termo quarentine 15” para expressar o suposto aumento de quinze libras (cerca de seis quilos) durante o isolamento. Aqui no Brasil, criamos os coronaquilos.

É verdade que estresse e situações de tensão têm efeitos sobre o nosso apetite, mas é preciso ficar atenta: se isso fosse uma preocupação exclusivamente sobre saúde, consideraríamos que as pessoas também poderiam emagrecer nessas condições. Afinal, variações de apetite e peso durante períodos de estresse são consideradas normais e cada pessoa reage de modo diferente. É aquela história: cada corpo é um corpo.

Contudo, o que se impõe é a obrigatoriedade de não engordar. Desde pequenas aprendemos que a relação com o nosso corpo deve ser de dominação. A ordem é clara: haja o que houver, o importante é ser “bonita” – leia-se: magra, branca, alisada, feminina e doce. Independentemente dos custos financeiros ou psicológicos dos seus esforços, “apenas tenha uma aparência agradável”.

Use esse plot twist global para redefinir as prioridades em relação a você mesma e ao que você quer para a sua vida

Assim, estamos acostumadas a nos sentirmos ameaçadas pelo que as mídias e expectativas sociais querem de nós e, por isso, a vergonha ou medo de engordar é tão natural para nós mulheres que a preocupação com um futuro indefinido para o mundo todo, devido a uma pandemia, se transforma em previsões catastróficas sobre a estética do nosso corpo.

Se você se sente mal com certos comentários ou piadas, mas não consegue entender o porquê e resume seu mal-estar a um desconforto causado por “apenas uma brincadeira”, pode agora nomear essa ação e validar a sua intuição. Body shaming é como se chama a prática de caçoar, humilhar, rebaixar ou criticar o corpo de alguém. Logo, pode até ser um comportamento muito naturalizado, mas nem por isso menos tóxico.

Ao contrário, body shaming imprime angústias, inseguranças e dor às nossas histórias. Acabamos por nos tornar mulheres obcecadas por julgamentos e extremamente treinadas ao auto-ódio. Nesse contexto, é esperado que saibamos desde o início o que é viver a sensação de ansiedade em relação ao próprio corpo. Mas responde pra mim: como vamos conseguir nos cuidar com amorosidade se estamos ocupadas em nos vigiar e nos punir? Em reproduzir a cobrança e o julgamento alheio?

Se você está com medo de engordar na quarentena, considere que o seu corpo merece amor, carinho e respeito. Use esse plot twist global para redefinir as prioridades em relação a você mesma e ao que você quer para a sua vida. Para isso, se olhe com calma, respire fundo e não se esqueça: seja gentil.

 

Daphini Lima Morais é psicóloga clínica e trabalha com atendimentos online. Estudiosa das questões que tangem o corpo, a alimentação e a cultura, ajuda mulheres a se amarem através do desenvolvimento da inteligência emocional e do autocuidado gentil

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