Recalcular a rota é preciso
Meu verdadeiro despertar não veio de uma grande superação pessoal. Foi na expectativa de ajudar o maior número de pessoas possível que descobri o que eu gostaria de fazer. Pra sempre
10.10.2017 | Por: Karina Oliani
A gente imagina que as grandes mudanças vêm de grandes aventuras – e por muito tempo fiz coro a essa expectativa. Tive a oportunidade de mergulhar nos mais fundos dos mares e de beijar o topo da montanha mais alta do mundo. E, claro, essas experiências moldaram muito quem sou. Mas o verdadeiro despertar mesmo aconteceu na banalidade da rotina.
O barulho da televisão compunha a trilha sonora de qualquer atividade pouco importante que eu desempenhava naquele abril de 2015, quando, de repente, o chiado tão conhecido ganhou tons sérios ao falar de um terremoto no Nepal.
As poucas informações sobre a tragédia foram suficientes para entendermos a dimensão do que se passava naquela terra longínqua e querida que me acolheu tão bem.
Liguei para os amigos nepaleses em busca de notícias, mas a comunicação era impossível. No mesmo dia busquei apoio de parceiros, amigos e familiares para embarcar em uma expedição médica de emergência.
Tomei um voo no dia seguinte com as malas cheias de medicamentos. E com a guiagem e a ajuda do Pemba Sherpa, amigo com quem alcancei o topo do Everest pela primeira vez, caminhei dois dias para chegar aos vilarejos mais remotos de Helambu – então virtualmente inacessíveis. A medicina salvou muitas vidas ali, como era esperado, mas não imaginava que fosse “salvar” a minha também.
Sempre tive muito prazer e orgulho das atividades que exerço como médica, apresentadora e esportista, mas foi naquele cenário, sem nenhuma comunicação, sem nenhuma mídia e sem nenhuma expectativa que não fosse a de ajudar o maior número de pessoas possível, que descobri o que eu gostaria de fazer. Pra sempre.
Quando voltei a São Paulo, me uni ao superparceiro Andrei Polessi, e juntos criamos o Instituto Dharma, uma iniciativa social que promove ações pontuais em situações de emergência. O projeto já levou médicos ao sertão nordestino, já atendeu pacientes na Índia e já construiu uma escola no Nepal – e essa lista vai crescer em breve.
Embora continue dedicando o dia a dia à minha produtora, a Pitaya Filmes, não me distraio de empregar o que há de melhor em mim na manutenção do Dharma – até porque, agora, eu e o projeto somos uma coisa só.
Karina Oliani é a brasileira mais jovem a chegar ao topo do Monte Everest, e a única a ter escalado as duas faces da montanha mais alta do mundo. Formada em Medicina com especialização em Wilderness Medicine e Medicina de Emergência, é pilota de helicóptero e realiza trabalhos sociais em áreas remotas do planeta
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