Revolucionárias | Ana Fadigas, a editora

Criadora da 'G Magazine', ela mostrou homens em nu frontal pela primeira vez na história da imprensa mundial

30.10.2017  |  Por: Equipe Hysteria

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Revolucionárias | Ana Fadigas, a editora

Foto: Ica Martinez

 “Nosso gol foi mostrar personagens famosos nus e eretos. Nunca no mundo ninguém tinha feito isso. E percebi ali que eu podia mais, que tinha um caminho editorial: tornar a G Magazine uma revista militante, acolher esse público de verdade. Chegamos a vender 180 mil exemplares”

Ela tirou a roupa dos homens – e os mostrou de frente, de pau duro, numa revista assumidamente gay, pela primeira vez na história da imprensa mundial. Até ali, revistas de homens pelados eram mais recatadas e disfarçadamente direcionadas ao púbico feminino – o caso mais clássico talvez seja o da Playgirl americana. Em 1998, a jornalista Ana Fadigas, que até então havia construído uma carreira no grupo Abril, lançou a G Magazine, que chegou a vender 180 mil exemplares nas bancas, sem assinatura.

O trunfo da foi conseguir estampar na capa homens famosos, desnudando-os para um público homossexual. O primeiro foi Vampeta, então ídolo do Corinthians, na 16a edição, em 1999. Entre os best-sellers da revista estão Rodrigo Phavanello, do grupo Dominó, e os atores Mateus Carrieri e Alexandre Frota, então na Globo.

 

Além de perseguir o segmento popular – de carona na experiência que tivera na direção do núcleo da editora Abril cujo carro-chefe era a revista Contigo –, Ana transformou a numa causa. Seu primeiro marido, o professor de história Jayme Camargo, pai de seus dois filhos, era gay, e Ana conhecera de perto o preconceito.

Foram 114 edições em suas mãos. No início o maior obstáculo era o ataque dos ex-colegas, que a acusavam de deixar o jornalismo para trabalhar com “putaria”. Com o tempo, foi ficando cada vez mais caro produzir a G: os rapazes passaram a exigir cachês compatíveis com os das atrizes que posavam n Playboy, o que não era viável para uma revista sem assinatura. Cansada do embate diário, ela acabou vendendo a revista.

Foto: Ica Martinez

 

Ela por ela

Trabalhei na Editora Abril de 1978 até o finalzinho dos anos 90. Passei por muitas publicações, cheguei a diretora de núcleo. Aí resolvi sair, mudar tudo. Com dois sócios, abri a editora Fractal. Compramos a Interview Sexy da própria Abril, e passamos a chamá-la apenas de Sexy. Trabalhamos muito bem o título, foi um sucesso total. Fizemos vídeos ousados, como o da Roberta Close mostrando a cirurgia de mudança de sexo.

Eu sempre sonhando em fazer revistas para segmentos complicados. O pai dos meus filhos era gay, fomos uma família complicada, mas com muito amor envolvido. Comecei então a pesquisar o segmento gay. Aquilo, para mim, era atingir com qualidade esse público, que não tinha nada, que estava abandonado. Na França existia uma revista, mas muito intelectualizada. E existiam aquelas publicações hipócritas, como aPlayGirl  americana, por exemplo, que fazia para o público gay, mas dizia que era para mulheres.

Começamos bem pequeninos, fazendo uma revista chamada Banana Louca, uma marca já conhecida na Internet. Saíram cinco edições e mudei o nome para G Magazine. Era 1998. Passei, então, a ter surpresas: o público me cobrando ereções, nu frontal. Nosso gol foi mostrar personagens famosos nus e eretos. Nunca no mundo ninguém tinha feito isso. Percebi ali que eu podia mais, que tinha um caminho editorial: tornar a G Magazine uma revista militante, acolher esse público de verdade.

Criei, por exemplo, um manual de redação. Se você não cuidar, a homofobia sai nas entrelinhas. Incluí regras como: não pode escrever HIV com letra maiúscula. Tinha que ser minúscula, a aids não podia ser associada ao gay. Essa parte mais ativista da revista foi tomando uma enorme proporção na minha vida. Eu recebia jovens conflituosos na redação, viramos uma casa aberta para gays. Tudo era muito complicado. Os contratos, não tínhamos publicidade, não havia patrocinadores… Até blitz nas bancas tínhamos que fazer, porque os próprios vendedores hostilizavam os compradores, chamando de bichinha, boiola.

Paralelamente, fui tentando dar peso à revista, chamando colunistas muito bons, como Glauco Matoso e João Silvério Trevisan. Teve um episódio engraçado: a revista Imprensa queria dar uma capa comigo, a proposta era uma foto minha crucificada, um Larry Flint de saias. A G Magazine chegou a vender 180 mil exemplares. Com o tempo, o custo foi ficando muito alto, muito difícil de manter. Fiz 114 edições. A foi pioneira no mundo. Famoso, nu frontal, duro, ereto, ninguém fez antes.”

 

– Veja a lista com todas as revolucionárias –

 

 

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