Revolucionárias | Maya Gabeira, a surfista

Ela começou aos 14 anos na Praia de Ipanema e hoje é a única brasileira entre as cinco mulheres que competem no circuito de ondas gigantes

13.11.2017  |  Por: Karla Monteiro

image
Revolucionárias | Maya Gabeira, a surfista

Foto: Murilo Meirelles/Revista TPM

“Quando comecei, não existia nenhuma mulher profissional no circuito de ondas gigantes. É bem difícil ser mulher no surfe, o caminho é muito solitário. Dentro d’água você está sempre disputando com homem. Outra questão é que é um esporte violento, que demanda muita força. A gente começa em desvantagem com eles”

Só existem cinco mulheres no mundo – ela é a única brasileira – que competem no circuito de ondas gigantes. Maya Gabeira é a primeira surfista profissional da categoria, quebrando recordes e desafiando os limites do esporte. Venceu cinco vezes o prêmio de Melhor Performance Feminina do Billabong XXL Awards, o Oscar dos surfistas de ondas grandes.

Primeira mulher a surfar no Alasca e primeira mulher a surfar em Ghost Tree, na Califórnia, Maya começou como garota de Ipanema, aos 14 anos, na Praia do Arpoador. Com 17, ao terminar o Ensino Médio, partiu para o Havaí. Hoje, como estrela do surf radical, conta com o patrocínio de marcas como Red Bull, Skol, Time Royal, Skoll e Mitsubishi.

Em 2013, Maya enfrentou a morte na frente das câmeras, em imagens que ganharam as redes e as televisões do mundo inteiro. Na cidade de Nazaré, norte de Portugal, ao pegar uma onda de 20 metros de altura – o correspondente a um prédio de seis andares –, decolou num voo espetacular e submergiu no tsunami de água. Foram seis minutos de imagens assustadoras até o resgate.

Foto: Tim Mckenna

 

Ela por ela

“Fui para Nazaré porque eu queria surfar a maior onda da minha vida. Eu, Carlos Burle, Pedro Scooby e Gordo (o surfista Felipe Cesarano). Não conhecíamos o lugar, fomos conhecer, estruturar, deixar equipamento, treinar, fazer uma base. E foram duas semanas de muita onda. Minha passagem de volta para Los Angeles, onde vivia na época, era no dia 24. Fazia mais de três meses que eu não ia para casa. Aí começou um papo de que talvez um swell histórico entrasse no dia 28. Mesmo assim resolvi ir embora.

Cheguei em casa e, no dia seguinte, vi a previsão confirmando o swell. Peguei um voo e voltei para Portugal. No dia, acordamos no escuro, botamos os jets na água. Tsunami. Mar em fúria. Estava todo mundo transtornado. Você espera muitos anos por aquele momento. Não pode paralisar. Naquela adrenalina toda, saltei para o jet do Burle. Só quatro jets na água. O Burle tentou me colocar numa onda, não larguei a corda. Tentou outra, não larguei. Aí… levantei confiante numa onda gigantesca. A onda era tão grande que já estava quebrando. Minha prancha pegou muita velocidade. Segurei um voo e aterrissei. Segurei outro voo e aterrissei. A cada voo eu pegava mais velocidade. E no terceiro perdi o controle.

Fui sendo atropelada pelas ondas. Subia e descia. Numa das porradas que tomei, o Burle me perdeu por uns quatro minutos, desapareci. Fui para debaixo d’água com a consciência de que eu ia apagar. Tudo preto. Achei que não fosse subir de novo. Mas subi, a roupa tem certa flutuação. Pensava: vou apagar, não tem mais como, meu corpo está entrando em colapso. Aí olhei para a esquerda e vi o Burle. E ele me viu. Veio na minha direção, jogou a prancha de resgate, não consegui pegar.

Ele contou depois que olhou no meu olho e pensou: Maya está morrendo. Para mim, era tudo silêncio, paz, não havia barulho. Burle me jogou a corda e, não sei como, tive força para agarrá-la. Fui arrastada uns cinco metros. E, só então, resgatada. Uma experiência muito forte.

Quando comecei, não existia nenhuma mulher profissional no circuito de ondas gigantes. É bem difícil ser mulher no surfe, o caminho é muito solitário. Ou você se adequa ao mundo dos meninos ou se torna uma pessoa mais introspectiva. Eu optei por fazer meu trabalho, voltar para casa e me relacionar com gente de fora do meu meio. Os meninos estão sempre entre amigos. No surfe de ondas grandes, somos só cinco mulheres. Dentro d’água você está sempre disputando com homem. Outra questão é que é um esporte violento, que demanda muita força. A gente começa em desvantagem com eles.  

Depois do acidente, acho que me tornei uma pessoa mais centrada, mais presente na vida. E meu deu medo. Hoje sou uma pessoa que tem medo.”

 

– Veja a lista com todas as revolucionárias –

 

 

0 Comentários

Comentar

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *