Revolucionárias | Suzana Herculano-Houzel, a cientista

Seu estudo sobre o cérebro ganhou repercussão internacional, alterando o pensamento e a literatura científica existentes

30.10.2017  |  Por: Equipe Hysteria

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Revolucionárias | Suzana Herculano-Houzel, a cientista

“Já cheguei a dar autógrafo em guardanapo. Era ligeiramente constrangedor. Mas fui me dando conta de que, poxa, brasileiro costuma pedir autógrafo de gente que aparece na TV. Se tem pessoas considerando uma cientista celebridade, tenho mais é que ficar feliz da vida”

Em 2009, a cientista carioca Suzana Herculano-Houzel publicou um trabalho revolucionário no Jornal de Neurologia Comparada, uma das mais importantes revistas científicas da área da neurociência. Seu artigo revelava que o cérebro humano é composto de 86 bilhões de neurônios, e não 100 bilhões, como pregava a literatura existente.

A descoberta ganhou repercussão internacional e foi discutida em artigos na Science Magazine, publicação da Associação Americana para o Avanço da Ciência, considerada, ao lado da Nature, a revista acadêmica mais prestigiada do mundo. Alçada ao rol dos grandes da ciência, a cientista carioca hoje trabalha na Universidade de Vandelbilt, em Nashville, nos Estados Unidos.

Suzana graduou-se em biologia na UFRJ, fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos e na França, trabalhou na Alemanha e, em 2002, assumiu a chefia do Laboratório de Neuroanatomia Comparada da UFRJ. Ano passado, após lançar uma campanha frustrada de financiamento coletivo para o laboratório, na tentativa de sobreviver ao corte de verbas que acabou por inviabilizar o prosseguimento de sua pesquisa no Brasil, deixou o país.

 

Ela por ela

“Após ficar muitos anos fora, entre mestrado e doutorado, em 2002 voltei ao Brasil e acabei indo trabalhar na UFRJ. Na época, estava curiosa sobre aquele mito de que só usamos 10% do cérebro. Uma das possibilidades era que se a gente tem 100 bilhões de neurônios no cérebro e dez vezes mais células gliais, que dão suporte aos neurônios, então os neurônios seriam cerca de 10% do cérebro….

Com meu background, fui revirar a literatura atrás destes números e descobri que não havia fonte. Os 100 bilhões eram uma estimativa de ordem de grandeza. E os “dez vezes mais células gliais” era um jogo de telefone sem fio. Ninguém questionava isso. O assunto estava encerrado.

Fiquei olhando para aquilo e pensei: isso é básico, a gente não sabe o básico do cérebro. Acho que aí entra a revolução. Encontrei um método barato para contar neurônios. Consistia, literalmente, em fazer uma sopa de células, cozinhando o cérebro. Já tenho 13 anos de trabalhos publicados com esses resultados. Pudemos literalmente reescrever vários aspectos da neurociência básica. Ano passado, tive muita sorte de receber uma oferta de trabalho nos Estados Unidos quando estava óbvio que a ciência no Brasil estava moribunda. Era uma morte anunciada.

Em 2010, foi o período em que a situação da ciência esteve o mais confortável ou menos problemática. Mesmo assim, o orçamento nos limitava. É claro que não se faz pesquisa de excelência no país, porque pesquisa de excelência exige investimento excelente. Era uma crise anunciada por conta da visão de que ciência é luxo, não ganha votos, então, naturalmente, é a primeira coisa a ter o orçamento cortado numa crise. Vi isso chegando na UFRJ e no Brasil todo. Se eu estivesse no Brasil agora, o que eu estaria fazendo? Nada. Talvez estivesse ganhando salário na universidade sem poder trabalhar.

Toda vez que dou uma palestra, em qualquer lugar no mundo, meus colegas estrangeiros ficam impressionados porque, se tem brasileiro na plateia, pede para tirar foto. No começo achava isso peculiar. Já cheguei a dar autógrafo em guardanapo. Era ligeiramente constrangedor. Mas fui me dando conta que, poxa, brasileiro costuma pedir autógrafo de gente que aparece na TV. Se tem pessoas considerando uma cientista celebridade, tenho mais é que ficar feliz da vida.”

 

– Veja a lista com todas as revolucionárias –

 

 

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