Rima, batida e a plateia do trem
Primeiro coletivo a fazer rap freestyle nos vagões da capital paulista, o Rimadores do Vagão quer legalizar sua arte e conquistar o mundo
13.12.2019 | Por: Equipe Hysteria

Em Londres, dois rapazes agasalhados tocam violino e violão; em Berlim, um careca manda ver no saxofone; em São Paulo, dois cabeludos cantam rap. Em comum eles têm a plateia composta de pessoas que, geralmente, estão indo ou voltando do trabalho, da faculdade ou de algum compromisso noutro canto da cidade. São artistas de rua, mas precisamente do metrô, cada qual em seu país, com seu ritmo, sua verdade e um chapéu para receber o dinheiro de quem entende que arte é trabalho.
É assim, inserindo música na realidade cinza de uma cidade onde as pessoas estão sempre com pressa, que o coletivo Rimadores do Vagão leva a vida. Há quem meta a cara no celular e finja que não está ouvindo, há quem não dê dinheiro mas entregue o mais sincero sorriso, mas é impossível não se ater aos músicos cantando a lida nossa de cada dia e fazendo graça com quem percorre os subsolos da capital paulista.
Diferentemente dos colegas gringos que tocam hits dos anos 80, o coletivo brasileiro entrega arte feita na hora, produzindo rimas com o que está diante de seus olhos na plataforma. É o chamado rap freestyle, que leva milhares de pessoas para batalhas em todo o Brasil e ali, ao vivo, é entrecortado pela voz que anuncia as estações e acompanhado de uma batida beat box, aquela maravilhosa percussão vocal do hip hop.
“O que nos motiva, além do retorno financeiro, claro, é estar fazendo história. Ser o primeiro coletivo no mundo a fazer isso”, conta Kagibre, um dos dez integrantes do coletivo. E dá pra viver de fazer música no metrô? O Rimadores do Vagão é a prova de que dá. O grupo atua de forma organizada e se reveza no dia a dia de trabalho há três anos. Tem fãs, recebe convite para dar oficina em escola e, claro, inspira outros jovens a fazerem o corre pelos próprios sonhos. “O hip hop é um elemento de transformação social. Expande, abre a cabeça para que as pessoas percebam que a gente não é obrigado a viver a vida inteira no lugar em que nasceu ou fazendo a mesma coisa. Com ele, a gente chega a lugares que nunca imaginou”, diz Flor, a única mulher do grupo.
É para que arte chegue a mais gente que a Converse resolveu contar essa história. Funcionando como uma plataforma de expressão, a marca quer inspirar os jovens amplificando a voz de três coletivos, cada um com um propósito diferente. Rimadores do Vagão, Coletivo Tibira e Alma Preta mostram que juntos somos mais fortes e vamos mais longe.
A gente quer mesmo é propagar a cultura
O Rimadores do Vagão nasceu de um coração partido. “Foi quando o MC do Trem, que vendia suas balas fazendo rima dentro dos vagões no Rio de Janeiro, teve uma desilusão amorosa e veio pra São Paulo”, conta Kagibre. O carioca recém-chegado começou a frequentar as batalhas, conheceu uma galera e levou alguns parças para vender bala e rima nos vagões. Deu certo, deu dinheiro. E daí a se organizarem foi um pulo. Isso era 2016.
Aqui vale um parênteses para lembrar que nessa época a interpretação artística dentro ou fora do transportes públicos era proibida no Rio de Janeiro (assim como é ainda hoje em São Paulo e em Londres). Em setembro de 2018, a lei 8120 foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e botou dentro da legalidade manifestações culturais em trens e metrôs do Estado.
Não é à toa que uma das lutas do coletivo hoje é legalizar sua arte. “Quero chamar a atenção de quem está lá em cima para liberar a arte de rua nos metrôs de São Paulo. Deixar o mundo mais da hora e tirar a pessoa do mundinho delas no celular. A arte liberta o pensamento”, diz Cauã, outro integrante do Coletivo. O grupo estima que haja hoje cerca de 120 MCs fazendo rima dentro do transporte público em São Paulo. “Isso é muito legal porque a gente quer mesmo é propagar a cultura”, garante Kagibre. E a meta é ambiciosa: “Quero ver é chegar ao Brasil inteiro e por que não dizer ao mundo inteiro! Arte não pode ter limitação”, completa o MC Cem Por Centro.
E se eu não tiver uma moeda? “Vale nota de R$ 100, relógio ou celular”, brinca o MC Ciero enquanto faz rima atravessando o vagão. Mas o coletivo sabe que sorriso e aplauso também valem muito. “O que nos inspira é o sonho coletivo de espalhar a arte e transformar a cidade, é nosso amor pelo hip hop e pelo freestyle”, resume Flor.
0 Comentários