Revolucionárias | Rita Lee, a roqueira

Mulher que mais vendeu discos na história da música brasileira, ela influenciou de forma determinante o comportamento feminino

13.11.2017  |  Por: Karla Monteiro

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Revolucionárias | Rita Lee, a roqueira

“Nunca carreguei bandeira de feminismo. Eu era a única menina roqueira no meio de um clube só de bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culhão. Eu fui lá com meu útero e meus ovários – e me senti uma igual, gostassem eles ou não”

Perto de completar 70 anos, no dia 31 de dezembro, Rita Lee olha para trás e diz que só queria se divertir. A única bandeira que admite ter empunhado é a da defesa dos animais. Ao longo de quase seis décadas de carreira, gravou 26 discos e vendeu cerca de 60 milhões de cópias. Em cada um dos trabalhos deu um recado, cutucando, remexendo, influindo no comportamento da mulher. Foi se divertindo que ela mudou para sempre a nossa história.

Rita estreou nacionalmente em 1967, no terceiro Festival de Música Popular Brasileira, o “festival dos festivais”, da TV Record. Ao lado os irmãos Baptista, Arnaldo e Sérgio, protagonizou, logo de saída, um momento histórico, quando os Mutantes, então mascotes da Tropicália, desafiaram a manada e introduziram a guitarra elétrica na MPB. O trio acompanhou Gilberto Gil em Domingo no Parque. E Rita Lee ganhou de Glauber Rocha o título de “Cacilda Becker do rock”.

Daí em diante esteve em todas as revoluções, musicais e comportamentais, que marcaram a sua época. Com ironia ácida, personalidade irreverente e linda de morrer, lançou uma torrente de canções que se tornaram marcos feministas: Ovelha Negra, Lança Perfume, Agora só falta você, Baila Comigo, Banho de Espuma, Desculpa o Auê, Erva Venenosa, Amor e Sexo, Reza, Menino Bonito, Doce Vampiro.

No feminino/feminista Mania de Você, de 1979, tomou para si as rédeas do prazer, num tempo em que o sexo só era cantado pelos homens. A música ficou várias semanas em primeiro lugar nas paradas de sucesso e foi parar num comercial de jeans. Rita está no altar da música brasileira como a mulher que mais vendeu discos na história, e com maior número de hits. Sagrada, rainha do Rock.  

 

Ela por ela

“Nunca carreguei bandeira de feminismo. Eu era a única menina roqueira no meio de um clube só de bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culhão. Eu fui lá com meu útero e meus ovários – e me senti uma igual, gostassem eles ou não.

Sou do tempo em que feminismo era queimar sutiã no meio da rua e eu nunca tive peito suficiente para sequer usar sutiã. Talvez eu seja uma feminista gauche. Subia no palco com duas missões: me divertir e divertir quem estava lá me assistindo. A única bandeira que carrego comigo desde pequena é a dos direitos dos animais.

Conto na minha biografia que aos 5 anos fui estuprada com uma chave de fenda por um técnico que consertava a máquina de costura da minha mãe. Ao escrever sobre esse episódio, exorcizei o trauma de vez e não gosto de posar de vítima.

Vivi intensamente a minha época sem pensar que futuramente seria considerada revolucionária. Acho que abri, sim, estradas, ruas e avenidas. E vejo que hoje as garotas desfilam por elas, o que me faz sentir um certo orgulho. Ser pioneira teve um preço, mas também fez escola. Naquele tempo eu não tinha distanciamento histórico para me perceber como feminista, libertária, quebradora de tabus. Eu simplesmente subia no palco, matava o pau e mostrava a xana.”

 

– Veja a lista com todas as revolucionárias –

 

 

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