Sobre virar mãe (e transformar isso em disco)

Às vésperas do Dia das Mães, a cantora Lila lança single em homenagem ao filho, o primeiro de um álbum todo dedicado à experiência da maternidade

07.05.2020  |  Por: Lila

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Sobre virar mãe (e transformar isso em disco)

Desde que fiquei grávida, reverencio a sabedoria e o poder do meu corpo. Ele foi capaz de fabricar, ser moradia e alimento de outro ser humano. A ele se deve toda a Humanidade e tudo do que ela é capaz.

Precisei gerar e parir pra entender a potência que mora em mim. Toda mulher é esse poder. Mesmo sem gerar uma criança, o poder da criação é nosso. A força criativa está em nós. 

Nesse contexto me vi abandonando um disco já iniciado com cinco músicas e começando tudo do zero. Precisava falar sobre o que me atravessava e o que me virou de ponta-cabeça. 

Ver um corpo que é seu se deformar, se doar, se rasgar e morrer não é simples. Parir é como morrer. Um corpo expulsando suas entranhas. Estranhas pernas, braços, ombro e cabeça. Um corpo revivendo o Big Bang. Agoniza, urra, morre, mas no fim não morre. Nasce e renasce. 

Processo dolorido e demorado de renascimento, pois sua entranha agora chora fora do seu corpo e não te deixa dormir, tomar banho ou comer. Estou até hoje, 1 ano e 8 meses depois, ainda tentando me reerguer.

E assim foi se construindo meu disco Puérpera e vem dele a minha saúde e meu renascimento. 

A maternidade pode parecer bonita de fora, e é, mas é também muitos outros sentimentos. Os pesadelos do parto, o cansaço da gravidez, a esperança do amor, a menstruação, a solidão e o aprendizado sobre a impermanência viraram adubo em terra fértil. Eu precisava me reinventar ou ia murchar.

Tive na rede de mulheres um suporte incrível (e pra quem acha que a gente compete entre si procure amigas feministas pra ter por perto). No disco contei com duas mulheres generosas e sábias pra contribuir. Leticia Novaes e Ana Lomelino encheram de magia e poesia a história musical que vou contar. Benza Deusa.

Este ano vou parir mais uma vez. Não um corpo humano, mas um corpo emocional; um corpo-música.

E na minha hora de ouro vem Bené. Single que eu fiz pro Benedito, meu filho, quando ele ainda tava na barriga. A sua existência, fora o peso e o tamanho da minha barriga, era uma abstração.  

Meu corpo, que foi se abrindo pra criar espaço físico e afetivo, de repente virou um corpo estranho, nem meu, nem dele.  Até que de repente era de nós dois. Eu só tinha vontade de acolher e amar aquele que morava dentro de mim.

Bené é uma música sobre o desejo e a esperança no amor.

 

Veja em primeira mão o clipe afetivo do single Bené, que chega às plataformas digitais no dia 8/5. O vídeo foi feito com imagens de arquivo desde a descoberta da gravidez até hoje:

 

 

Ficha Técnica 

Foto: Lucas Bori

Beleza: Teo Miranda

Direção de arte: Pedro Garcia

Produção Musical: Diogo Strausz e Tomás Tróia

Edição imagens clipe: Renata Chebel

 

Lila é cantora e participou dos grupos Mulheres de Hollanda e Quarteto Primo, além de ter gravado com Roberto Menescal, Guinga e Francis Hime. Lançou seu primeiro trabalho solo, o EP Lila, em 2015, quando foi uma das três indicadas pelo júri de especialistas do Prêmio Multishow como Artista Revelação e eleita uma das apostas para 2016 do Spotify. De lá pra cá, lançou singles com o DJ João Brasil (Não Fui Eu, Foi o Carnaval) e o produtor Leo Justi (Não é Não, que soma mais de um milhão de plays no Spotify). Em 2017, saiu o EP Lila Canta Carnaval. Ela é vocalista do bloco de carnaval carioca Fogo e Paixão

 

 

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