Suar é subversivo

De todas as subversões que uma mulher pode escolher, suar pode ser uma das mais revolucionárias

21.07.2021  |  Por: Mariana Caldas

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Suar é subversivo

Mulher e suor são dois conceitos que historicamente não andam juntos. Se desde sempre as meninas foram educadas para serem a materialização dos bons costumes, o exemplo máximo da etiqueta, a própria vênus em movimento, performando a perfeição a cada inspiração, sempre arrumadas, perfumadas e de pernas bem fechadas, suar nos dá a possibilidade de experimentar os nossos corpos, e nos convida a liberdade, ao movimento e ao prazer.

Porque quando uma mulher sua ela se liberta do lugar de obra de arte no museu, perfeita, imóvel, impossibilitada de realizar, errar, ser quem ela é, e recupera o poder de ser dona do seu próprio corpo, e principalmente, da sua própria vida. Afinal, viver também, e principalmente, é estar em movimento. 

Em 2015, uma campanha da Adidas Stella Sport, collab entre a marca alemã e a icônica Stella Mccartney, trouxe para a luz o quanto tudo o que o suor representa culturalmente para as mulheres também faz parte, muitas vezes de uma forma bem invisível, de tudo o que todas as meninas já tiveram que ultrapassar para conquistarem as suas camisas em qualquer esporte. 

Minha parte preferida do curta “Break a Sweat”, que foi brilhantemente dirigido por Petra Collins, é quando Carmen Mac, uma das atletas personagens, nos lembra o quanto o suor nos foi censurado. “Quando estou suando muito é quando eu me sinto mais poderosa. Principalmente porque quando você é uma mulher, você cresce ouvindo que não pode suar, ou transparecer nenhum tipo de esforço. E quando eu estou aqui, suando, cheirando suor, sentindo todas as toxinas irem embora do meu corpo, isso também significa que eu conquistei e terminei o que eu me propus a fazer”. 

O quanto não poder suar está relacionado a não ter permissão para realizar, conquistar e descobrir o que o nosso corpo tem de mais poderoso? Estar em movimento, colocar intenção e esforço na vida, também é escrever o nosso nome na história, ser a CEO de uma empresa, fazer uma descoberta científica que pode mudar o mundo, ganhar uma medalha de ouro nas Olímpiadas que estão começando. 

Suar também significa destituir o patriarcado porque suar também é poder sentir muito prazer. E viver o prazer a partir do nosso próprio corpo pode sim ser mais uma forma de libertar a nossa e as próximas gerações de tudo o que já nos foi negado até aqui. 

Mariana Caldas é diretora, fotógrafa e jornalista, seu trabalho autoral investiga e revela a natureza selvagem que vem de dentro.

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