Suicídio adolescente e sexo no mesmo texto? Sim e por favor
Como os pais e a desenvoltura com a sexualidade podem ajudar os adolescentes a seguirem apegados à vontade de viver
09.09.2019 | Por: Cassiana Buosi
Foto: Gabriela Silveira | Piscina
Há alguns anos, notícias a respeito do crescente índice de suicídios entre adolescentes vêm se tornando cada vez mais presentes em importantes veículos de comunicação. Invariavelmente nossa reação é de perplexidade, tristeza e questionamento. Afinal, o que podemos fazer para mobilizar a sociedade além do debate?
Por conta de um projeto que temos no ar, no qual dialogamos com pais, mães, educadores e outros interessados sobre “Criança e Sexualidade: Consequências de uma Abordagem Tardia”, exploramos bastante a importância de, desde cedo, estabelecermos relações com nossos filhos pautadas no diálogo com confiança e amor.
Diante do atual cenário estatístico a respeito do suicídio, nos perguntamos: será que esses jovens perderam a esperança na Humanidade e em nossa capacidade de amar? Eles deveriam estar se preparando para uma das melhores fases de experiências humanas, com afeto e intimidade. Mas estão tirando suas próprias vidas.
O momento em que vivemos pede de nós, adultos, a seguinte reflexão: como fazer o amor vencer esse impulso de autodestruição e de qualquer violência contra o outro ou contra si mesmo?
Aqui é importante lembrar que o homem percorre a agitada gama de sua vida lidando com as forças de destruição: doenças, acidentes, desastres naturais, violência. E por isso seria de esperar que diante desses esmagadores golpes do destino, nos opusessem (sempre e firmemente) à morte e à destruição. Mas não é o que acontece.
Torna-se cada vez mais evidente que parte da destruição que flagela a Humanidade é a autodestruição; e o suicídio é isso: um ataque do ser humano contra sua própria existência.
Amor e ódio, sexualidade e agressividade, vida e morte. Tais polaridades são forças que habitam o ser humano e estão presentes no cotidiano, tanto nos conflitos banais quanto nos mais mórbidos.
É necessário coragem para olharmos esses aspectos inerentes à natureza humana, e também para dialogarmos com nossas crianças, uma vez que essas polaridades são os cernes de muitos de nossos conflitos psíquicos.
Definitivamente é preciso amar mais e amar melhor
Enxergando o sexo como manifestação de uma força criadora, como seria se pudéssemos viver mais livremente e mais afetuosamente essa energia criativa? Será que dessa forma poderíamos potencializar nossa capacidade criadora abafando o impulso de destruição – inclusive contra a própria vida? Convido todos a essa reflexão.
Temos dentro de nós os instintos de vida e de morte. Tendências construtivas e destrutivas da personalidade estão em constante conflito e interação, exatamente como acontece com forças semelhantes na física, química e biologia.
Uma frase descrita no livro O Demônio do Meio Dia, de Andrew Salomon, nos mostra como funciona esse sentimento presente em muitas pessoas: “Não queria morrer porque me odiava, mas porque me amava o suficiente para querer o fim da dor.”
Definitivamente é preciso amar mais e amar melhor, e sendo o sexo a primeira morada do amor, devemos olhar para esse aspecto primordial de qualquer vida humana. Como adultos conscientes é importante investigar motivos subjacentes que determinam essa escolha: por que em alguns indivíduos o desejo de morrer vence tão completamente o desejo de viver? Sendo o eros, a força erótica, o próprio desejo de viver, não podemos de forma alguma excluir a sexualidade humana dessa investigação.
Se quisermos que nossas crianças resgatem o desejo de viver, nós adultos precisamos resgatar o poder da nossa força de criação, e a sexualidade é essa força. Resgatar o Eros, a força erótica e o amor para ampliarmos a nossa capacidade de criar um mundo infinitamente melhor, onde todos queiram estar.
E para finalizar o artigo sem encerrar o assunto (pois não existe última palavra quando o assunto é suicídio) levantamos uma pergunta: como serão esses futuros adultos que estamos criando se seguirmos repelindo e colocando debaixo do tapete assuntos que mexem conosco, como a sexualidade?
Para que possamos começar a responder essa questão, juntos e com muito amor e afeto, convidamos todos a virem cocriar um caminho melhor para essa complexa jornada familiar. Participem do nosso grupo no Facebook Educação Começa em Casa.
Cassiana Buosi é fundadora da TalkB4 e do Futuro do Sexo, onde este texto foi publicado originalmente. Apaixonada por design, inovação, futuros, educação, pessoas, disrupção – tudo ao mesmo tempo e misturado –, está sempre se reinventando
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