Treze anos nos separam (mas só na minha cabeça)

Eu torci pra ele ir embora e pra dar errado só porque achava que não era certo namorar um cara tão mais novo. Parece loucura, mas é só o reflexo da nossa sociedade mesmo

30.10.2017  |  Por: Lalai Persson

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Treze anos nos separam (mas só na minha cabeça)

Eu estava no auge dos meus 35 anos. Voltava de Nova York com o pedido de demissão daquele que um dia foi o emprego dos sonhos na ponta da língua. Estava feliz como há muito não me sentia, cheia de planos para uma mudança radical. Cruzei com o Ola logo que retornei ao trabalho. Não senti nenhuma atração especial. Ele era apenas meu mais novo colega de trabalho. Tinha vindo da Suécia para uma temporada na agência.

Mas o futuro sempre está nos rodeando com uma surpresa na manga. Poucas semanas depois nos cruzamos na pista de uma das festas que eu produzia. A noite transcorreu entre dancinhas e drinks, mas pouca conversa. Só que no final da madrugada ele foi parar na minha casa, no meu quarto, na minha cama. Na manhã seguinte, sóbria, olhei pro lado e o primeiro pensamento que me veio não foi sobre a noite deliciosa e sim: “Meu Deus, onde eu estava com a cabeça pra trazer esse menino de 22 anos pra cá?” Já era tarde.

E foi assim que começou nossa história, cheia de preconceitos (da minha parte). Tentei evitar a todo custo que a história fosse adiante, não porque estava ruim, mas porque “onde já se viu sair com um cara tão mais novo”? Mas cruzando com ele todos os dias entre uma reunião e outra não ajudou nesse sentido. A conversa, o interesse pela música, a nerdice, tudo ia me conquistando aos poucos. Quando me dei conta, estávamos andando de mãos dadas na rua e passando finais de semana inteiros e seguidos na minha casa. Aí, já era tarde mesmo. Me apaixonei!

E mesmo depois dessa constatação, não foi fácil. Os 13 anos de diferença o tempo todo me atormentavam. Eu não via (ou não queria ver) futuro pro nosso romance. A minha sorte é que ele iria embora em poucos meses. Sua próxima parada era Londres. Ufa! Eu estava segura. Mas destino lançou uma nova cartada. A essa altura eu já tinha me desligado da agência e dava uns tropeços para montar meu primeiro negócio. A equipe com que ele trabalhava mexeu os pauzinhos para ele ficar em São Paulo. Eu torcia a favor e contra. Juro. Queria que desse certo. Queria que desse errado. Nunca estive numa confusão emocional tão complexa. E o ponto era um só: a diferença de idade.

Demorou até eu revelar a minha idade para ele, que nunca me perguntou ou se interessou de verdade. Hoje, conhecendo-o como eu conheço, sei que não fazia a menor diferença. O Ola é o tipo que se apaixona por pessoas e ponto. Demorou também para eu tocar no assunto, tirar da gaveta toda essa insegurança. E sabe por quê? Porque eu só pensava no futuro da história e não no presente dela. Logo eu que sempre tive pânico de casamento e agora carrego uma aliança pesadona na mão esquerda.

Estamos há nove anos juntos. Ainda é uma surpresa para as pessoas quando sabem a nossa diferença de idade. O Ola com a barba e a seriedade marcantes e eu envolta na síndrome do Peter Pan disfarçam a diferença. Aliás, muita gente acha que ele é mais velho do que eu.

O interessante é ver que não estou sozinha. Costumo receber mensagens de pessoas agradecidas porque decidiram levar adiante um relacionamento com alguém muitos anos mais novo, dizendo que eu fui uma inspiração. Detalhe: sempre ela mais velha, sempre relacionamentos heterossexuais, sempre mulheres. Porque a nossa sociedade (e a gente, não me excluo) tem muita dificuldade de lidar com isso. Homem 30 anos mais velho que a mulher pode, não gera estranheza, pois foi sempre assim, não é mesmo?

Ainda tenho meus momentos inseguros, especialmente agora, aos 44, em que mudanças bruscas no corpo, na alma e até mesmo na energia parecem monstruosas. Eu mal sei lidar com elas. O Ola ri do auge de seus 31 anos e nessa risada cravo os dois pés no hoje, no agora, e paro de pensar nesse futuro que sequer existe, mas me inferniza tanto.

Parafraseando o Jim Morrison: “The future’s uncertain and the end is always near.” 

Lalai Persson é DJ e produziu durante anos as melhores festas de São Paulo. Trabalhou com publicidade por uma década e criou o site de lifestyle de viagens Chicken or Pasta

 

 

3 Comentários

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3 respostas para “Treze anos nos separam (mas só na minha cabeça)”

  1. Joanna Milet disse:

    Maravilhoso! Tenho um grande preconceito comigo mesma com 11 anos de diferença. Me encontrei! 🙂

  2. Cristiana Lozeski disse:

    Que história massa!!!
    Tbm tive essa ‘neura’ no começo do meu relacionamento. Sou 6 anos mais velha do que meu marido. Quando o conheci com seus 20 aninhos eu trabalhava vestida de calça social, camisa e salto alto e ele de bermuda, all star , brinco e mochila nas costas. Ninguém acreditava que ia durar. Mas estamos há 15 anos , com 3 filhos e muitos sonhos a realizarmos juntos .

  3. Luciana Targino disse:

    No meu caso já é o contrário. Acabo me envolvendo com homens bem mais velhos, mas talvez seja pela mesma insegurança… Bela história, essa.

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