Tudo sobre a K-Beauty, a última tendência dos cuidados com a pele

Os produtos de beleza coreanos viraram mania pela variedade, tecnologia e preço mais acessível que o das marcas americanas e europeias

08.06.2018  |  Por: Maria Clara Drummond

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Tudo sobre a K-Beauty, a última tendência dos cuidados com a pele

Hoje, no universo da beleza, há toda uma dialética em jogo. De um lado, estão as técnicas de contorno, procedimento que surgiu no universo das drag queens e foi popularizado pela família Kardashian, em que uma sucessão de produtos de maquiagem é usado para moldar o rosto, como se fosse um photoshop que funciona através da ilusão de ótica. Aqui, não há nenhuma preocupação em fingir que I woke up like this (flawless), como diz a música da Beyoncé. A ideia de perfeição tem uma pegada quase anime. É ostensivamente artificial.

Do outro lado, surge uma tendência crescente com os produtos e técnicas orientais, especialmente sul coreanos: a K-Beauty. Embora o país tenha um índice altíssimo de cirurgias plásticas, o objetivo aqui é cuidar tão bem da pele para que não seja necessário maquiagem, e assim conquistar uma aparência naturalmente bela. Tal qual a técnica de contorno, também é necessária uma série de produtos, mas todos de skincare, para alcançar uma pele limpa, uniforme, sem poros dilatados, iluminada e sem imperfeições.

Eloi Choi, descendente de coreanos que vive em Los Angeles, tornou-se viral ano passado ao mostrar sua glass skin, uma pele tão luminosa que chega a ser translúcida – a busca por korean glass skin cresceu 500% nos Estados Unidos em 2017. Foi a partir daí que o mundo conheceu a rotina coreana de dez passos, antes de dormir e depois de acordar, um produto após o outro, tais como: 1) demaquilante à base de óleo para tirar a maquiagem; 2) água micelar para limpeza; 3) esfoliante; 4) tonificante; 5) sérum antirrugas; 6) tratamento – aqui, varia de acordo com suas necessidades, como melhorar a firmeza, eliminar a acne, diminuir as manchas, etc; 7) máscara facial; 8) creme para os olhos; 9) hidratante; 10) protetor solar. O número de etapas e tipos de produtos varia um pouco, e pode chegar a até 14!

Pode parecer entediante passar tanto tempo cuidando da pele, mas é exatamente o oposto. Christine Chang, especialista em k-beauty e co-CEO da marca Glow Recipe, cita o termo “skintertainment” (um neologismo que mistura a ideia de cuidar da pele com entretenimento e diversão): “As texturas divertidas e os conceitos de última geração tornam a experiência divertida e sensorial, e não uma obrigação.”

Os produtos coreanos fazem sucesso pela pesquisa de ponta, que estão cerca de 15 anos à frente dos ocidentais, pelos ingredientes incomuns como veneno de abelha e muco de caracol, e pelas técnicas de aplicação inovadoras. As embalagens fofinhas que agradam ao público millennial também ajudam, assim como o foco nas redes sociais como ferramenta de marketing. Sonia Lim, empresária mineira filha de coreanos, usa os produtos de origem asiática desde a adolescência: “De dez anos para cá teve um superpulo nas embalagens e produtos. Marcas novas surgiram e as tradicionais se fortaleceram. Mesmo sendo brasileira, nem penso em usar produtos que não sejam coreanos, a não ser quando é uma emergência, aí compro na farmácia mesmo.”

Apesar de algumas marcas venderem no Brasil, a maneira mais fácil de usar os produtos coreanos é comprar online. O que, apresar da praticidade, pode ser um problema: além de esperar algumas semanas até a encomenda chegar, também corre-se o risco da pele não se adaptar. “Eu costumo optar por coisas que eu não encontro no Brasil, como esfoliante químico em pó, ou que são mais baratas comprando fora. Para não correr risco, sempre compro primeiro em tamanho viagem, e se der certo compro no tamanho normal. Antes, eu era viciada em sheet masks (máscaras descartáveis), mas depois comecei a achar um absurdo elas serem embaladas individualmente, não tem necessidade e é desperdício de plástico, e então deixei de usar,” conta a economista Adriana Raupp.

Um dos elementos que seduzem na k-beauty é a variedade e os preços. “Comecei a usar em 2014. Nessa época, o dólar estava com uma cotação baixa, então o preço me seduzia muito. Passei por uma fase de vício e deslumbramento em que eu testava muita coisa guiada pelas resenhas da internet. Hoje, abandonei a rotina dos dez passos e a maioria das sheet masks – que são gostosas de usar mas não são tão revolucionárias quanto dizem – mas mantenho os produtos feitos com muco de caracol, como Missha Super Aqua Cell Renew Snail Sleeping Mask e o Cosrx Advanced Snail 96 Power Essence”, revela a estilista Lucia Hsu.

No entanto, se cotação do dólar e a inconveniência de fazer compras às cegas te desanimar, há sempre soluções. A chef Beatriz Sonoda Falcão faz os nove passos com produtos convencionais mas sempre prezando por uma composição mais natural possível. “Eu havia ido à uma dermatologista e ela me recomendou uma série de sessões caríssimas de laser de luz pulsada e CO2. Mas, ao ver aquelas mulheres bem mais velhas que eu na sala de espera, mudei de ideia. A partir daí, me informei a respeito do sistema de beleza coreano.”  A filosofia também é o que atraí o historiador Claudio Kawakami: “Uso alguns produtos coreanos, mas gosto mesmo da maneira que eles pensam a pele, bem melhor que a ocidental”, reflete ele. Outra possibilidade de ir conhecendo esse universo com é o perfil de Instagram @bonitadepele, comandado por Jana Rosa, em que ela dá dicas tanto de k-beauty quanto de produtos vendidos por aqui, e que podem servir como bons substitutos. Afinal, nem mesmo Eloi Choi, que foi uma das responsáveis pela tendência, usa 100% de produtos coreanos, focando mais na metodologia.

Glossário da K-Beauty

Sheet Mask: São máscaras faciais descartáveis feitas de papel, tecido ou gel preenchidas por nutrientes de acordo com as diferentes necessidades. A máscara em si cria um selo na pele que previne que os ingredientes evaporem e assim ajudando na penetração. No Instagram, virou mania selfies engraçadas com as tais sheet masks, já que elas vêm no formato de um rosto. Talvez as mais famosas sejam as de carvão vegetal ativado.

Cushion: Ou, em bom português: almofada. Num primeiro momento, quando vemos a embalagem junto à almofada, parece que é um pó compacto, ou mesmo os não-tão-saudosos pancakes. Mas é uma base liquida, normalmente com nutrientes hidratantes, que é aplicada com o cushion – a ideia é dar leves batidinhas para que a cobertura fique bem leve. A esta altura, o aplicador já foi imitado por marcas como Dior, Maybelline, Clinique e Boticário. Portanto, não é preciso viajar até o outro lado do mundo para testar!

BB, CC, DD Cream: Estes chegaram no ocidente circa 2011. Trata-se de uma união de diferentes produtos no mesmo creme, como hidratante, protetor solar e primer, tudo isso com pigmentação para substituir a base. O mais popular por aqui é o BB Cream – os outros dois tem ainda mais ingredientes.

Marcas

Amorepacific, Sulwhasoo, Iope, Etude House, Tony Moly, Laneige, Innisfree, Missha, Cosrx, Blithe, Clio, Dr. Dream, The Faceshop, Mizon, Shangpree, Whamisa.

Bastidores

Numa antológica cena de O Diabo Veste Prada, Andie Sachs dá uma risada ao ver sua chefe, uma poderosa editora de revista de moda, ficar em dúvida entre dois tons de azul que lhe parecem idênticos. Miranda Priestly então lhe dá uma lição sobre como há mais coisas entre o céu e a terra que sonha nossa vã filosofia: “Você escolheu esse suéter azul folgado para mostrar ao mundo que você não se importa com roupas. Mas você não sabe que essa cor não é azul e sim cerúleo. Em 2002, Oscar de la Renta e Yves Saint Laurent desfilaram peças cerúleo, e em seguida a cor estava em oito coleções diferentes, até ir parar na loja de departamento onde você comprou seu suéter numa liquidação. Mas esse azul representa milhões de dólares e vários empregos, e é cômico que você acredite que sua escolha a isente da indústria da moda.”

Da mesma forma, a tendência da K-beauty vai muito além do desejo de ter uma pele perfeita, e sim é uma estratégia do governo do país de soft-power – ou seja, o contrário de hard power, que seria o foco na indústria bélica como Estados Unidos e Coreia do Norte. A ideia é exportar produtos e a própria cultura coreana – o K-Pop de Gangnam Style faz parte disso. Hoje, a indústria da beleza no país gira em torno de US$ 11 bilhões (o mercado global é avaliado em US$ 167 bilhões), e é o segundo maior exportador de cosméticos para a China – só perdendo para a França, mas ultrapassando os Estados Unidos e Japão. A estratégia tem dado tão certo que até a vizinha ultra isolacionista Coreia do Norte tem procurado investir no mercado da beleza com a intenção de torná-los competitivos internacionalmente. Portanto, a Coreia do Sul está preparada para dominar o mundo… Através de hidratantes faciais!

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