Um voo para a representatividade negra
Iniciativas que pensam o turismo com um olhar mais inclusivo começam a chamar a atenção no Brasil. A plataforma Black Bird é uma das novidades que trazem diversidade para o mercado de viagens
01.08.2018 | Por: Luciana Paulino
Colagem com foto de Julian Howard on Unsplash
Eu sou dessas que passam horas sonhando acordada. Particularmente, amo sonhar com viagens, pode ser aquela praia paradisíaca do sul da Itália ou uma roda de samba na Santo Amaro de Dona Canô. Vou onde a inspiração e a vontade de explorar novas paixões me guiam.
Não foi à toa que o universo conspirou para que eu trabalhasse com viagens. Fiz relações-públicas para produtos turísticos como Suíça, Centro de Portugal, Visit Orlando e a rede Meliá de hotéis. Foi aí que comecei a conhecer o mercado de turismo mais a fundo e entender como o turismo é um importante ativo para a economia de um país.
No Brasil, temos um potencial turístico fantástico e movimentamos mais de R$ 200 milhões em viagens domésticas. Além disso, nossos turistas injetaram cerca de US$ 19 bilhões no turismo mundial, segundo dados recentes do Ministério do Turismo.
A grande pergunta é: qual é o percentual de turistas negros dentro desse universo?
Até o momento, o segmento do turismo brasileiro jamais investiu em pesquisas de mercado com um recorte racial. Seja de forma institucional, com o Ministério do Turismo, ou por meio de marcas que atuam no mercado, ninguém quis saber como esses 53,5 % da população se comportam em relação a viagens. Na publicidade a diversidade também não é levada em conta. Seja em campanhas, anúncios ou revistas do setor, não há representatividade negra.
Foi nesse cenário, ou no vácuo dele, que nasceu o Black Bird, uma plataforma de turismo e representatividade que quer trazer um olhar inclusivo para o mercado de turismo brasileiro. Nossa ideia é mostrar de negros jet-setters a mochileiros de aventura. Porque nós estamos pelo mundo, os outros é que não veem. Entre nossos colaboradores até o momento estão Stephanie Ribeiro, Thelma Lavignoli, Lilian Januario, Caroline Correia, Tulio Custódio e o maravilhoso jornalista, nômade digital e meu sócio Guilherme Soares Dias.
Nosso Instagram é um oásis inspiracional para apresentar alguns destinos sob uma nova ótica. A plataforma no Medium é um espaço para compartilhar relatos, dicas práticas e assuntos quentes como a lista babadeira de Wakanda dos jogadores mais gatos da Copa de 2018. E tem, claro, o Facebook, onde vamos explorar todos os conteúdos do universo Black Bird e mediar um grupo fechado para que viajantes negros falem das dores e delícias de ser um corpo negro por esse mundão.
E assim como existia a Tia Augusta, aquela agência supertendência que nos anos 90 levava crianças de classe média para a Disney, o Black Bird também terá seu braço “Tia Augusta Wakanda”. Num futuro próximo vamos organizar viagens pontuais para lugares especiais da cultura negra. Desde um bonde maravilhoso para a Lavagem do Bonfim na Bahia até uma empreitada pelo Afropunk em Nova York. Vocês podem não acreditar, mas um passeio pelo Harlem, reduto da cultura negra nova-iorquina, pode mexer com a autoestima de muita gente que nunca valorizou seu cabelo, sua cor e sua história.
Nos mercados internacionais, como os Estados Unidos, a pauta da diversidade tem sido tratada não apenas como uma questão de justiça social, mas também como uma potência econômica capaz de fomentar novos mercados. Essa mudança de mindset tem apresentado resultados econômicos positivos: os dados mais recentes do Instituto Mandala, especializado em turismo, mostram que viajantes afro-americanos movimentaram cerca de US$ 48 bilhões no último ano.
O sucesso se deve ao movimento conhecido como Black Travel Moment, que trouxe ao turista negro americano uma sensação de pertencimento. Alguns dos expoentes desse movimento são publicações como Travel Noire, Nomadness Travel Tribe e Black & Abroad.
No Brasil também temos iniciativas que têm pensado o turismo com um olhar mais inclusivo, como o Diáspora Black, uma plataforma virtual que articula os viajantes em rede, e o blog No Mundo da Paula, da baiana Paula Augot, que divide com seus leitores relatos deliciosos de viagem. O Black Bird vem para somar forças nessa caminhada e colocar na vitrine conteúdo de turismo pensado para o consumidor negro.
Luciana Paulino é relações-públicas paulistana. Atua como consultora de comunicação e está à frente da plataforma digital Black Bird, que propõe um olhar inclusivo para experiências de viagem
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