Uma mulher negra feliz é um ato revolucionário
Carolina Maria de Jesus é uma das maiores escritoras da nossa história e foi uma mulher negra muito bem sucedida, que desenvolveu os seus talentos com autenticidade e segurança
18.11.2021 | Por: Equipe Hysteria
A escritora Carolina Maria de Jesus foi descoberta pelo jornalista Audalio Dantas em 1958, na favela do Canindé, em São Paulo, onde morava na época. Naquele encontro breve, ela mostrou alguns dos seus escritos para ele, que logo a convidou para publicar alguns textos no Jornal “Folha da Noite”.
Seu primeiro livro “Quarto de Despejo” saiu pouco tempo depois, em 1960, e, 60 anos depois, segue sendo uma das mais importantes obras da literatura brasileira. E também consagrou o talento de Carolina internacionalmente, e chegou a ser traduzido em mais de 13 idiomas.
A obra também foi vendida em mais de 40 países e alcançou a marca de um milhão de cópias vendidas. Na época do seu lançamento, as 10 mil cópias impressas pela editora Francisco Alves esgotaram em apenas uma semana. Um feito inédito para aquele tempo, que elevou a estreia de Carolina para um fenômeno imediato.
Não demorou muito para o nome Carolina Maria de Jesus estar nas manchetes dos principais veículos do mundo como o “Le Monde”, a revista “Time”, que mandou um repórter ao Brasil especialmente para eternizar sua conquista histórica.
Apesar de ter vivido tanto sucesso ainda em vida, a imagem de Carolina foi de alguma forma perpetuada como uma mulher pobre, catadora de papel, que viveu uma vida de dificuldades na periferia de São Paulo.
Sua história é sim de luta, inclusive ela foi uma das primeiras vozes do antirracismo no país, e o tom político de sua obra trouxe luz para a intensa desigualdade social do Brasil, e para o descaso do governo com as favelas. Além de ter sido uma mulher que prezava por sua independência, solteira com muito gosto, que criou três filhos sozinha.
A recente exposição ”Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os Brasileiros” que vem abrilhantando o IMS em São Paulo desde o início de setembro tem como ponto central a reconstrução da imagem de Carolina como uma mulher bem sucedida, que aproveitou a bonança e o sucesso em vida.
A pergunta que fica é, a serviço de quem estava a perpetuação da imagem de Carolina como uma mulher negra, pobre, favelada, catadora de lixo, mesmo depois de ter escrito cinco livros, ter sido reconhecida internacionalmente e ser uma das maiores escritoras da nossa história, ao lado dos grandes como João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Machado de Assis.
Carolina também cantava, compunha, tocava violão e costurava. Viva a ousadia e assertividade dessa mulher que honrou os seus talentos, escancarou as portas da literatura para todas as mulheres e mudou para sempre a nossa história.
0 Comentários