Uma nação de insones não vai a lugar algum

Mesmo que pareça impossível é preciso dormir, encher o peito de ar, meditar e aproveitar as pequenas coisas da vida

27.04.2020  |  Por: Lila Guimarães

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Uma nação de insones não vai a lugar algum

Na quarentena, se a gente consegue fazer ioga, ler ou se cuidar de alguma forma é lucro – é exatamente o que eu estou tentando fazer com esmero. Para segurar essa onda gigante que é o Covid-19 tem que ser profissional, ou no mínimo um surfista com bastante fôlego. Respirar passa a ser mais uma função e meditar, aquele luxo, vira atividade essencial. Não dá para esquecer de puxar bem o ar e estufar o peito com coragem.

Em dias incertos, o medo da perda ataca os nervos e a angústia bate por estarmos num grande navio desgovernado em pleno mar revolto: o Brasil. Ir dormir exausta sem a certeza de que a porta de casa está fechada é a sensação que tenho quando termina o dia. Com tantos perigos lá fora, deixamos as chaves e a responsabilidade por nossa segurança nas mãos erradas. E agora, como pegar no sono?

Na quarentena, todos multiplicaram suas horas de trabalho, o dia é um ofício a ser vencido com garra e infinitas tarefas. A gente vai pra cama acabado, com o corpo moído, mas sem cabeça para relaxar. “Evite as notícias”, recomendações do mais recente ex-ministro da Saúde. Entre a realidade do mundo em números tristes que se atualizam de hora em hora e uma vida pacata em casa, variamos de humor, os batimentos cardíacos entram em disritmia e temos insônia. Dormir ficou para quando tudo isso acabar.

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E se não acabar? O fato é que não sabemos quanto tempo tudo isso vai durar, então, não temos escolha: é preciso descansar o corpo e a mente senão adoecemos de qualquer jeito. Tratar do nosso bem-estar como prioridade vai ser lei daqui pra frente, e quem sabe uma lição definitiva. Numa turbulência, quando as máscaras de oxigênio caem, colocamos a nossa primeiro como uma estratégia para que possamos estar firmes e então ajudar o outro. Essa é a lógica.

Para fazer bem a alguém é importante estar bem também. Não temos como tirar do negativo qualquer ideia ou sentimento otimista. Ser positivo agora é uma questão de exercício e disciplina. Vamos ajustar o olhar para tudo o que é belo ganhar mais foco, vamos aumentar a lente para ver qualidade nas coisas simples do dia a dia, tentar sentir o presente com dedicação – isso inclusive diminui a ansiedade e o medo, porque nos conectando mais com o agora não damos espaço para antecipações. Não sabemos como será o futuro, mas sabemos que ele depende de nós, em coletivo.

É hora de ressignificar até o momento de lavar a louça. De escolher melhor como vamos passar por esses dias difíceis e na companhia do quê. Se existe a poesia, por que não recitar um poema em voz alta ou mandar um áudio bonito para uma amiga que mora sozinha? A música, por que não dançar? Se temos temperos, por que não cozinhar com prazer? Se podemos ajudar com palavras ou até mesmo com grana, por que não fazer? É hora de cuidar da vida como ela é, ou como quando vivíamos nus em tribos, só com o que era essencial e o essencial é o que pode estar na palma da mão.

Fazer e viver uma coisa de cada vez, como sugere a filosofia Zen, pode ser possível, assim como observar os pensamentos tóxicos indo e vindo, separando na tela da mente o que é produto do medo, da ansiedade, do que é real, como a meditação ensina. Temos ferramentas infinitas para acessar esses conhecimentos e práticas. Lives, artigos, podcasts, vídeos… tudo está online. Para quem preferir, o silêncio pode ser um ótimo aliado para esse mergulho no autocuidado. Sei que não é fácil, mas temos que nos manter bem. Uma nação de insones não vai vencer o vírus!

 

Lila Guimarães é carioca e vive em São Paulo há quase uma década, atuando como jornalista, atriz, stylist, mística e mãe. Escreve sobre comportamento e bem-estar no seu blog Cena Crua

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