Vida e morte dos influenciadores

No dia em que a primeira pessoa se apresentou como influencer, a influência morreu

09.10.2017  |  Por: Manuela Rahal

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Vida e morte dos influenciadores

Minha primeira experiência com influência — que, na verdade, foi uma missão — aconteceu em 2009, quando a maior marca de produtos esportivos do mundo me chamou para trabalhar em um pequeno departamento. Chamado Energy Marketing, tinha como objetivo cuidar das relações da marca com influencers. Naquele tempo, influência ainda era uma palavra usada apenas nos corredores do Planalto. Mas, ali, ela mudaria seu rumo para sempre.

Os seletos mailings com formadores de opinião deram lugar às chamadas listas de influencers. Lembremos que, na época, as redes sociais eram tímidas, portanto, o trabalho de listar os tais influenciadores era de campo. Para mim foi bem intenso e me ajudou a consolidar raízes e relacionamentos. Do Capão Redondo aos Jardins, de Emicida a Alex Atala, aprendi que o mais importante era a minha palavra e que, se eu prometesse algo, teria que cumprir — e dessa forma minha network foi se ampliando. Todo mundo gosta de ganhar presentes, mas cumprir uma promessa te faz pontuar muito neste mundão.

Os anos se passaram, as redes sociais ganharam força e os publicitários perceberam “um novo mercado em potencial”. Nasciam ali as blogueiras, os creators e esse blablablá todo. Juntos, criador e criatura fizeram o que vêm fazendo historicamente: saturaram o mercado e destruíram o império na mesma velocidade em que o criaram.

No dia em que a primeira pessoa se apresentou como influencer, a influência morreu.   

O mercado tomou uma invertida da lógica que ele mesmo criou. Os posts já não eram pagos a meninas que tinham um público e que eram referência, mas as meninas é que criaram carreira em cima dos posts pagos. O conteúdo era raso e mal atingia seus seguidores — que, aliás, deixaram de ser pessoas reais para se tornarem robôs em algum servidor chinês. E essa superficialidade não combinava com um cachê igual ao do Neymar Jr.

Neste momento corre uma lágrima no meu rosto. Escrever tudo isso é uma enorme contradição para mim, afinal, trabalhar com influência se transformou no meu ganha-pão. Hoje, me sinto meio highlander: viva e caminhando por uma via paralela a esse mercado. E não há nenhum segredo guardado a sete chaves. O que eu faço é manter a mesma verdade que me guiava lá em 2009, naquele mundo pré-Instagram.

Sou uma jornalista dos tempos de redação de jornal impresso, mas nasci mesmo para ser relações-públicas. Eu era a menina amiga dos populares e dos nerds, aquela que transitava entre todos, na escola, na faculdade, na redação e, basicamente, em qualquer lugar onde passava mais de 30 minutos. E o que eu aprendi nessa jornada é que o influencer de verdade nasce como um cogumelo depois da chuva. Espontaneamente. É alguém que serve de referência para uma galera sem fazer esforço. E mais: nem sempre esse título é dado pelo número de seguidores. Entender isso é revigorante. Libertador.

No final, todos são influenciadores de algum assunto, você só precisa abrir os olhos e enxergar além de uma campanha publicitária, além da foto, além do release. A influência respira por aparelhos. Mas o antídoto há de surtir efeito. E ele é feito de uma grande dose de verdade e outra grande dose de responsabilidade.

#PAS

Manuela Rahal é jornalista, relações-públicas e sócia da microempresa Rahall, que cria plataformas e programas de influenciadores da vida real para marcas de pequeno e grande porte.   

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